segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aula Araraquara: Antropologia e Catequese

ANTROPOLOGIA E CATEQUESE

CURSO - PROGRAMA

I. OBJETIVOS DO CURSO

1. Esclarecer o conceito de antropologia e sua importância na catequese.

2. Caracterizar a pessoa humana, seu conceito e sua visão integral.

3. Abordar a culturas, sua definição e suas características principais.

4. Mostrar o sentido da religião, suas principais formas e atitudes na cultura humana.

5. Explicitar o papel da educação na cultura.

6. Desenvolver os principais fenômenos culturais.

7. Expor a diversidade cultural e o pluralismo religioso.

8. Abordar os processos sócio-culturais negativos.

9. Focalizar a postura do catequista.

II. CONTÉUDO DO CURSO

1. Definição de antropologia

2. Importância da antropologia para a catequese

3. Conceito de pessoa humana

4. Visão integral de pessoa humana

5. Cultura e catequese

6. Religião

7. Educação

8. Principais fenômenos culturais

9. Desafios culturais

10. Diversidade cultural

11. Pluralismo religioso

12. Processos sócio-culturais negativos

13. Postura do catequista

III. DESENVOLVIMENTO DO CURSO

1. DEFINIÇÃO DE ANTROPOLOGIA

1. Conceito de antropologia

A antropologia é o estudo do ser humano, de suas características específicas, das dimensões que o constituem e de suas manifestações e obras, como cultura, família, educação, religião e agrupamentos humanos.

® O termo “antropologia” provém da língua grega, “anthropos” (= homem) e “logos” (= estudo, tratado), que significa estudo do homem, tratado do homem.

® Assim, em seu sentido original, a antropologia é a doutrina sobre o ser humano.

® O termo surgiu com o filósofo grego Heródoto, no século V a.C.

® Por ser o primeiro, pelo que se sabe, a tratar sistematicamente do tema, Heródoto é considerado o pai da antropologia.

2. Diferentes tipos de antropologia

A antropologia divide-se em:

1º) Antropologia física: é a ciência que estuda os aspectos biológicos do ser humano, a origem da espécie humana e sua evolução, as semelhanças e diferenças entre os povos, as raças e etnias, a formação e situações das populações humanas, o dinamismo vital comum aos seres humanos e os animais, os mecanismo vitais o organismo humano (processos de reprodução, de genética e de conservação), o corpo do homem e seu habitat (geografia, cultura, história).

2º) Antropologia cultural: é a ciência que estuda e compara o comportamento humano, a vida social, os tipos de grupos e instituições, a organização econômica, a cultura, os conhecimentos, as leis, os costumes, os hábitos, a linguagem, as religiões, a arte e a moral.

¨ A antropologia cultural divide-se em:

« Etnologia (do grego “ethnos” = povo): é o estudo histórico dos povos e de seus costumes.

« Etnografia: é o estudo descritivo de um ou de vários aspectos sociais e culturais de um povo ou grupo social.

« Antropologia social: é o estudo sobre as características socioculturais da humanidade (costumes, crenças, comportamento, organização social).

« Lingüística: é o estudo da linguagem, ou seja, da forma de expressão de ser humano.

« Arqueologia: é o estudo do passado da humanidade mediante os testemunhos materiais que dele subsistem

3º) Antropologia filosófica: é a disciplina da filosofia que reflete sobre o ser humano, sua origem, natureza, sentido, destino e lugar no mundo.

4º) Antropologia teológica: é a disciplina da teologia que reflete sobre o ser humano à luz da revelação e da fé, tendo como base a Bíblia, a Tradição da Igreja, o Magistério Eclesiástico e a contribuição dos pensadores cristãos.

2. IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA PARA A CATEQUESE

O estudo da antropologia é muito importante para a catequese.

® A dimensão antropológica é fundamental na catequese, por lidar com o ser humano e com seu desenvolvimento espiritual.

® A catequese tem como ponto de partida o ser humano em sua situação concreta, para pode compreendê-lo mais e educá-lo melhor na fé cristã.

® Tendo a figura humana de Jesus Cristo, a catequese procura apresentar aos educandos um estilo de vida atraente e relevante no mundo de hoje, sempre sendo fiel aos valores humanos e éticos.

® A preocupação da catequese atual é comunicar, em linguagem acessível à pessoa de hoje, a doutrina cristã como boa nova de salvação.

¨ Tal doutrina ilumina as experiências do destinatário e o ajuda a descobrir o verdadeiro significado da vida (existência, amor, liberdade, consciência, família, trabalho, mistério da dor e do sofrimento, guerra e paz), para lançar, de uma maneira sistemática, a luz do Evangelho sobre os problemas humanos básicos.

3. CONCEITO DE PESSOA HUMANA

3.1. Origem da palavra

De acordo com os estudos lingüísticos, o vocábulo “pessoa” origina-se da língua etrusca.

® O termo grego “prosopon” em (“paneh” em hebraico; “persona” em latim) significa máscara, figura, personagem de teatro, papel representado por um ator.

® Era a máscara que o autor usava, servindo para identificar a personagem.

® A palavra passou para a língua portuguesa em 1267.

® A partir de seu sentido original, a pessoa designa a identidade do sujeito que atua.

3.2. Definição de pessoa humana

A pessoa humana é o sujeito pleno, livre, consciente e único, capaz de pensar, sentir, relacionar e agir no mundo.

® Constitui o ser humano racional e livre, definido pela sua dimensão de sujeito moral e espiritual, plenamente consciente do bem e do mal, autônomo e responsável.

® A pessoa traz traços bem peculiares do indivíduo da espécie humana, mas distinto dos indivíduos das espécies animais, que se encontram essencialmente subordinadas ao bem geral do grupo.

® Tem todas as faculdades necessárias para viver: inteligência, vontade, liberdade, sentimentos, imaginação, memória, percepção e ação.

3.3. Concepção clássica de pessoa humana

No pensamento clássico, pessoa foi definida como substância individual de natureza racional.

® Esse conceito foi dado pelo pensador romano Severino Boécio (470-525), que foi cônsul e primeiro ministro do rei ostrogodo Teodorico.

Í Sua contribuição influenciou toda a antropologia filosófica e teológica dos últimos dois mil anos.

® Quando se fala de substância individual, quer dizer que toda a pessoa humana é única e distinta, com características singulares, irredutíveis, intransferíveis e concretas.

Í É diferente de outros seres, com algo próprio e incomunicável.

® Ao destacar a natureza racional, significa que a pessoa humana é dotada de razão, capaz de compreender as coisas, de se comunicar e de se relacionar com os outros.

Í A razão humana é a faculdade que tem a função de perceber, analisar, refletir, resumir, comparar, julgar, formular, estudar e apreender.

3.4. Visão moderna

Em nossos dias, sem negar os elementos da definição clássica, os pensadores sublinham com preferência o aspecto dialogal da pessoa humana: ser de relação.

® Trata-se de uma concepção antropológica que vem da filosofia humanista e personalista (E. Mounier, M. Buber, E. Brunner, E. Levinas).

® O pensamento atual concebe a pessoa como ser de relação.

Í Toda a pessoa é ser de comunhão e de diálogo, que é um “eu” que se relaciona com um “tu” e ambos formam um “nós”.

Í Todo ser humano se desenvolve como pessoa em todas suas dimensões, isto é, em seu relacionamento com Deus, com os outros, consigo mesmo e com o mundo.

® A pessoa não só é um ser em diálogo intelectual e racional, mas de compenetração no amor.

Í A base da pessoa humana é o amor, que dá sentido à sua existência e a abre para a convivência com os outros.

Í O amor é a atitude ou a atividade na qual um sujeito particular encontra sua realização plena como pessoa.

® Os pensadores atuais insistem que a sociedade pressupõe a existência e o valor da pessoa humana.

Í Não existe contraposição entre os dois conceitos, mas um exige o outro.

Í A sociedade deve respeitar a dignidade e os direitos das pessoas humanas que a compõem.

3.5. Visão da antropologia teológica

a) Imagem de Deus

Na visão da antropologia teológica, a pessoa humana é concebida como imagem e semelhança de Deus.

® A pessoa é criatura de Deus, criado à sua imagem e semelhança, dotado de corpo, mente e alma, tendo vida dependente do Criador.

® A pessoa humana é um projeto divino, idealizado perfeito pelo Pai.

® Danificado pela falha livre do pecado, Deus o renovou em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem.

® Como filho de Deus em Cristo, o ser humano é chamado à comunhão com a Trindade Santíssima, participando de sua felicidade.

b) Ser inteligente, livre e responsável

De acordo com a antropologia teológica, a pessoa é ser inteligente, livre e responsável, que assume seu papel de sujeito de sua própria identidade e agente da construção da sociedade.

® O ser humano é a consciência do universo, é responsável por transformar a natureza com ordem, respeito e equilíbrio.

® A pessoa humana é chamada a ser agente de transformação da história.

® O ser humano é convocado por vocação a viver em solidariedade e comunhão, auxiliando assim na implantação do Reino de felicidade.

c) Dignidade e igualdade do ser humano

A Igreja proclama a igualdade e a dignidade do ser humano, sem nenhuma distinção fundamental.

® A Igreja professa que todo o homem e toda a mulher têm si a nobreza inviolável que eles próprios devem respeitar.

® A Igreja valoriza a vida humana como um valor incomparável.

® Por isso, a Igreja censura, denuncia e combate todas as formas de violação da integridade das pessoas, reprovando quando as pessoas se tornam objeto das pesquisas científicas, do consumismo, da política, da economia, do erotismo e da magia.

d) Ser corporal e espiritual

A pessoa humana é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual (Gn 2,7).

® A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma a forma do corpo, isto é, é graças a alma que o corpo, que é material, torna-se humano e vivo.

® Na pessoa humana, o corpo e a alma formam uma única natureza.

® O corpo humano participa da dignidade da imagem de Deus porque está destinado a ser templo do Espírito Santo e a ressuscitar no último dia.

® A alma, que o princípio espiritual que anima o ser humano, não vem dos pais, mas é criada diretamente por Deus no momento da concepção humana, sendo imortal.

e) Igualdade entre homem e mulher

Na antropologia teológica, o homem e a mulher são iguais em dignidade de pessoas (Gn 2,23).

® O homem e a mulher foram criados por Deus numa igual dignidade como pessoas humanas (Gn 1,27).

® Deus os criou numa recíproca complementaridade como homem e mulher, pois os quis um para o outro, para uma comunhão de pessoas (Gn 2,18).

® Juntos, o homem e a mulher são chamados a transmitir a vida humana, formando no matrimônio uma unidade profunda, e a dominar a terra como intendentes de Deus (Gn 1,28;2,24).

® Cada gênero, ser homem e ser mulher, reflete atributos característicos da sabedoria e bondade de Deus.

f) Pessoa humana, dotada de consciência moral

Como ser moral, a pessoa humana tem a capacidade para distinguir entre o bem e o mal (consciência moral).

® A pessoa humana é dotada de consciência moral, que a leva a ter o senso daquilo que é certo ou errado.

® Pela sua consciência moral, o ser humano é capaz de saber o que deve ser e fazer.

® Por isso, é chamado a agir de acordo com os critérios de verdade e de bem, de justiça e de solidariedade.

® A consciência moral da pessoa influencia e dirige sua conduta humana no dia-a-dia.

g) Pessoa humana, ser livre

A pessoa humana é um ser livre.

® Todo o ser humano, e somente ele, é um ser moral, uma vez que está chamado a assumir e a construir a sua própria existência.

® É um ser livre e responsável, pois tem a capacidade para tomar suas próprias decisões e responder por elas.

® Só a pessoa humana é sujeito de moralidade.

® Só ela é capaz de fazer ações morais.

4. VISÃO INTEGRAL DE PESSOA HUMANA

4.1. Visões parciais do ser humano

4.1.1.Cosmovisões antropológicas inadequadas

Na sociedade contemporânea, circulam e propagam entre nós diversas maneiras visões parciais do ser humano.

® A cosmovisão (ou mundividência) significa a concepção que temos da realidade que nos cerca.

® As visões parciais do ser humano são maneiras inadequadas de se perceber a realidade da pessoa humana, capazes de influenciar e orientar suas opções, atitudes e atos.

® Umas estão presentes no senso comum, enquanto outras são forjadas pela ideologia de grupos culturais e sociais.

® Outras ainda provêm de meios eruditos e acadêmicos, mas há aquelas que são produzidas e mantidas no universo religioso do povo.

4.1.2.Diversas visões inadequadas

Destacamos as seguintes visões parciais do ser humano.

1º) A visão determinista ou fatalista concebe o homem como aquele que aceita tudo passivamente, pois tudo já está fatalmente determinado.

Í O ser humano não dono de si, mas vítima de forças ocultas.

Í Sua atitude é colaborar com essas forças ou aniquilar-se diante delas.

Í Tal concepção ignora a autonomia da natureza e da história, como também a liberdade do ser humano.

2º) Na visão psicologista, a pessoa se reduza ao seu psiquismo.

Í O ser humano é condicionado fortemente pelas necessidades e tendências instintivas, que lhe tiram toda a responsabilidade.

Í Ele age por simples mecanismo de resposta a estímulos, carente de liberdade.

Í Essa cosmovisão nega que o homem possa ter a tendência de superar a si mesmo ou que o consiga.

Í Desconhece a exigência de tender para valores transcendentes e de se abrir ao relacionamento com Deus.

3º) Na mundividência economicista, o homem é resultado de suas relações de produção ou das forças econômicas.

Í O critério fundamental é o consumista, pois a pessoa é um instrumento de produção e objeto de consumo.

Í Tudo se fabrica e se vende em nome dos valores do ter, do poder e do prazer, como sinônimos de felicidade humana.

Í Socialmente, promove-se a ilusão de que todos têm acesso ao lucro e o resultado é compartilho pelos esforços comuns.

Í Negam-se os valores humanos, culturais, estéticos e religiosos, bem a dignidade da pessoa humana.

4º) No individualismo, predomina a visão egocêntrica.

Í O indivíduo coloca-se como centro de todo o interesse, pois tudo gira ao redor de seu próprio eu.

Í De matriz materialista, o liberalismo econômico defende que a dignidade da pessoa está na eficácia econômica e na liberdade individual.

Í O dinheiro é considerado como bem maior.

Í Cega-se para as exigências da justiça social, do amor humano e da solidariedade.

5º) No coletivismo, a pessoa é vista apenas por sua existência social.

Í O fundamental é sua função na sociedade e a serviço dela.

Í A meta existencial do ser humano coloca-se no desenvolvimento das forças materiais de produção.

Í A pessoa recebe suas normas de comportamento unicamente daqueles que são responsáveis pela sociedade e por suas mudanças políticas e econômicas.

Í Esse enfoque desconhece ou nega os direitos humanos, especialmente o direito à liberdade e à expressão religiosa, como também reduz o ser humano às estruturas externas e às forças sociais.

6º) A visão estatista coloca o Estado acima das pessoas.

Í A vontade do Estado se confunde com a vontade da Nação.

Í Em nome de uma suposta segurança nacional, justificam-se e institucionalizam-se atos que contrariam a democracia, os direitos humanos e as liberdades individuais.

Í As pessoas são controladas ou julgadas sem critérios da ética e do direito.

Í Tal visão é contrária à dignidade da pessoa humana e à democracia, mantendo uma visão arbitrária e opressora de poder e de Estado.

7º) A cosmovisão cientificista propugna nas ciências a única salvação do ser humano.

Í Só reconhece como verdade o que pode ser demonstrado pela ciência, o que leva a própria pessoa humana fica reduzida à definição científica.

Í Em nome da ciência justifica-se tudo, afrontando até a dignidade humana.

Í Neste parâmetro, submetem-se os povos e nações à tecnocracia.

Í A nova engenharia social, científica e tecnológica controla e manipula os espaços e decisões dos indivíduos e das instituições.

Í O que importa são os meros elementos de cálculos, as pesquisas dos cientistas e as descobertas novas.

Í Negam-se os critérios éticos, humanos e religiosos, como também exagera o papel da ciência e da tecnologia no universo humano.

4.2. Visão integral da pessoa humana

Na visão antropológica integral, a pessoa humana é, intrinsecamente, um ser de relação.

® Em relação ao Criador, nós somos chamados a tratá-lo como Pai e a ser filhos de Deus, cultivando amizade com Ele e vivendo de acordo com seu projeto de criação e de salvação.

® Em relação a nós mesmos, nós somos chamados a viver em harmonia conosco mesmos e ser íntegros e coerentes, amadurecendo nossa personalidade e buscando nossa realização pessoal.

® Em relação aos outros, nós somos chamados a conviver com eles como irmãos e irmãs, amando-os e dialogando com eles de acordo com os princípios do respeito, da sinceridade, da solidariedade, da paz, do perdão e da reconciliação.

® Em relação ao mundo, nós somos chamados a ser senhores do cosmo e cidadãos na sociedade, preservando a natureza e construindo uma convivência justa e igualitária.

5. CULTURA E CATEQUESE

5.1. Conceito de cultura

A cultura é a maneira como em determinado povo se cultivam as relações com a natureza, com as outras pessoas e com Deus.

® O termo “cultura” provém do latim “cultus”, que significa cultivo da terra, ação de cultivar.

® A cultura é o conjunto de conhecimentos, valores, crenças, regras, leis, manifestações artísticas, heranças, ensinamentos, hábitos e costumes produzidos, adquiridos e transmitidos no interior de uma sociedade.

® A cultura é a forma de vida social de um povo, transmitida pela tradição, na qual a pessoa se insere, leva adiante suas realizações, descobre e faz seu um sistema de valores e de costumes.

® A pessoa recebe e cria, ao mesmo tempo, cultura, porque assimila a herança social do passado e, também, é capaz de produzir e transformar o estilo de vida de seu grupo ou povo.

5.2. Identidade cultural, herança social e tradição

1º) Identidade cultural: é o estilo de vida próprio, um modo de vida particular que cada sociedade desenvolve e que a caracteriza, de tal modo que faz com que a pessoa se sinta pertencente ao grupo e compartilhe a mesma cultura.

2º) Herança social: é a parte da cultura que as gerações adultas transmitem às gerações mais jovens.

3º) Tradição: é o conjunto de idéias, sentimentos e costumes que, numa sociedade, se transmite de uma geração a outra; é a parte da herança social e cultural valorizada pelo que representou no passado.

5.3. Cultura material e cultura não-material

Há a distinção entre cultura material e cultura não-material.

® Existe uma interdependência estreita e constante entre a cultura material e a cultura não-material.

® A interdependência entre os dois aspectos é intrínseca a qualquer cultura, pois um grupo só pode realizar sua cultura não-material apoiado em meios concretos de expressão que fazem parte de sua cultura não material.

1º) Cultura material: é o conjunto de artefatos e utensílios (ferramentas, instrumentos, máquinas, hábitos alimentares, habitação, etc.) que são produzidos numa sociedade e interferem em seu estilo de vida.

2º) Cultura não-material: é o conjunto de todos os aspectos morais e intelectuais (normas, ações, hábitos, aptidões, significados, crenças, conhecimentos, costumes, religião, ciência, artes, folclore) que circulam numa sociedade e guiam o comportamento humano.

5.4. Componentes da cultura

Os principais componentes da cultura são:

1º) Traço cultural (elemento cultural): é a unidade menor, o componente mais simples e representativo de uma cultura.

2º) Complexo cultural: é a combinação de traços culturais em torno de uma atividade básica.

3º) Área cultural: é a região em que predominam determinados processos culturais, certos padrões de cultura, que lhe conferem características próprias, diferenciando-se das demais.

4º) Situação multicultural: abrange diversas culturas, de diferentes origens, que se encontram numa mesma área cultural, e entre elas se desenvolve uma relação de simbiose e de respeito mútuo.

5º) Padrão cultural: é um conjunto de normas que rege o comportamento das pessoas de determinada sociedade ou cultura; os indivíduos numa sociedade agem habitualmente de acordo com os padrões culturais estabelecidos por essa sociedade.

6º) Costume: é o padrão de comportamento criado pela tradição e sancionado (aprovado) pela sociedade que o adotou.

7º) Uso: é o padrão de comportamento, prática, hábito, que em geral não está sujeito à sanção social; é termo usado muitas vezes no plural, como usos e costumes.

8º) Subcultura: é o complexo cultural com características próprias (costumes, símbolos, vestuário, linguajar peculiar, idiomas próprios, modos de viver, hábitos alimentares, festas típicas, grupos, comunidades, etc.) no interior de uma cultura maior, mas adotando também valores gerais dessa cultura mais ampla.

5.5. Religião, fator importante da cultura

5.5.1.Conceito de religião

A atitude religiosa do ser humano é, exatamente, o reconhecimento de sua ligação com o Transcendente.

® O termo “religião” provém do verbo latino “religare” ou “religari”, que significa ligar e sentir-se ligado.

® A religião é uma realidade presente na vida humana.

® Ao ser humano reconhecer que a sua vida e o universo estão ligados a Deus, seu autor e fonte, então surge nele a atitude religiosa.

® A religião é a atitude de uma pessoa em relação ao sagrado pelo qual Deus se comunica com a humanidade.

5.5.2.Significado subjetivo e objetivo de religião

A religião tem dois significados principais: subjetivo e objetivo.

1º) Significado subjetivo: a religião é a disposição voluntária da pessoa humana em reconhecer Deus como Ser Supremo e Senhor do universo e de lhe prestar o culto que lhe é devido.

¨ A atitude religiosa leva o ser humano a manifestar sua ligação com Deus das mais diversas maneiras.

¨ O ser humano expressa sua religião por gestos de adoração e de reverência, celebrações e preces, agradecimentos e louvores, arrependimentos e pedidos de perdão de seus erros, rogos por proteção e segurança diante de um ambiente que lhe parece hostil e, muitas vezes, indecifrável.

2º) Significado objetivo: a religião é o conjunto de verdades, princípios e normas que dirigem a vida do ser humano para Deus.

¨ A disposição religiosa interna das pessoas se manifesta em crenças, comportamentos, ritos e vida comunitária.

5.5.3.Elementos constitutivos da religião

Toda a religião tem uma estrutura, uma organização.

® A religião é formada pelos seguintes elementos constitutivos: doutrina, ritos, ética, comunidade e relacionamento.

1º) Doutrina: é um conjunto de crenças e princípios que servem de base ao sistema religioso.

¨ A doutrina traz a visão sobre a origem, o sentido e destino da vida.

¨ Tem sua forma de conceber a existência humana, as causas do sofrimento e da dor, o significado da matéria, o papel do ser humano na sociedade e na história, o acontecimento da morte e a realidade do além.

¨ Apresenta sua tradição, suas fontes de crenças, seus dogmas e suas verdades.

2º) Ritos: são as regras e cerimônias que se devem observar na prática da religião.

¨ Os ritos constituem uma maneira que uma comunidade realiza suas celebrações.

¨ Através deles, seus membros se unem e expressam sua comunicação com Deus.

¨ Os seres humanos não podem viver sem os ritos, sem os símbolos, sem as estruturas visíveis.

¨ Os ritos constituem um valor precioso da cultura de um povo.

3º) Ética: é um conjunto de valores, regras e comportamentos de um sistema religioso.

¨ Cada religião traz consigo as conseqüências de sua doutrina, ensinando o que está certo e errado, de acordo com sua cosmovisão.

¨ Paulatinamente, no complexo dos preceitos, vão destacando aquelas leis que são mais importantes, que passam a ser determinantes para seus seguidores.

¨ Quem acredita nas verdades de sua religião, age de acordo com eles.

4º) Comunidade: é um grupo de pessoas que comungam o mesmo ideal e a mesma crença.

¨ A religião tende a formar comunidade.

¨ Convencidos de suas verdades religiosas, seus membros procuram se unir para compartilhar sua doutrina, executar seus ritos e manifestar suas afeições.

¨ Um fortalece a caminhada religiosa do outro.

5º) Relacionamento: é o diálogo que o religioso faz com o Transcendente.

¨ Toda religião inclui um relacionamento pessoal entre o homem e Deus.

¨ Emerge do encontro da pessoal com o Criador.

¨ A pessoa alimenta sua crença na vida de sua comunidade religiosa.

5.5.4.Formas religiosas

As principais formas religiosas são:

a) Teísmo: O sujeito dos atributos divinos é distinto dos outros seres e pertence à ordem transcendental.

¨ Este ser é o criador do mundo e a sua causa vivificante.

¨ O teísmo divide-se em:

1º) Monoteísmo: Há um só Deus.

2º) Politeísmo: Há vários deuses.

3º) Henoteísmo: propõe a veneração de um Deus supremo, mas não nega a existência de outros.

b) Deísmo: O sujeito dos atributos divinos é um Deus sem qualidades morais e intelectuais.

¨ É um Deus que não intervém na criação.

¨ Não há revelação sobrenatural.

c) Ateísmo: Deus não existe.

d) Panteísmo: tudo é Deus.

¨ O universo, a natureza e Deus são idênticos.

¨ Não há nenhuma diferença quanto ao ser.

e) Animismo: acredita que as coisas têm alma e, consequentemente, vida própria.

¨ O animismo é mais crença, mentalidade, idéia, do que doutrina elaborada.

¨ É a crença de que as pedras, as árvores e os fenômenos da natureza têm alma.

¨ Enxerga, por detrás dos objetos sensíveis, uma vida-alma, psique ou espírito, capaz de se relacionar diretamente, em certos casos e sob certas condições, com o homem.

¨ Não é necessariamente uma religião, mas é uma tentativa de explicação dos fenômenos da natureza.

¨ Mas pode ser religião quando leva o homem ao culto.

f) Magismo: é a crença numa determinada força ou num poder oculto, mas impessoal, que excede às forças naturais.

¨ A magia é o poder de dirigir e influenciar o mundo e a natureza com as próprias forças, apenas empregando corretamente um rito secreto.

¨ Assim, o magismo é crença de que certos homens podem se apropriar e produzir, assim, efeitos extraordinários.

¨ O mágico procura captar estas forças e colocá-las à sua disposição.

¨ Magia branca: é aquela que procura o bem do homem.

¨ Magia negra: é aquela que se usa para prejudicar as pessoas.

g) Manismo: culto às almas dos defuntos, como oferecimentos de sacrifícios.

¨ Fala-se também em euhemerismo (Euhemero, filósofo grego): os deuses nada mais são do que homens divinizados.

h) Totemismo: é a forma primitiva de relação entre o ser humano e o domínio sobrenatural, que se expressa na crença de um grupo social, geralmente uma tribo ou clã, no poder sagrado dos totens.

¨ O totemismo: liga o grupo social a um animal, vegetal ou objeto, que se torna sagrado para o grupo, o totem.

¨ O totem é um animal, vegetal ou objeto dos quais certos grupos primitivos tomam o nome, levados pela crença de que há um laço que une os membros da tribo a esse ser, que eles devem respeitar, evitando matá-lo, comê-lo e destruí-lo.

¨ O totemismo é o conjunto de atos e ritos que exprimem essa crença.

¨ Há ritos que agregação ao totem.

i) Fetichismo: é a crença no poder sobrenatural de um fetiche.

¨ O fetiche é o objeto a que se atribui poder sobrenatural.

¨ O fetichismo aplica-se à veneração ou culto de diversos objetos naturais ou artificiais, acreditando-se dotados de poderes sobrenaturais, misteriosos.

¨ O fetichismo se expressa pelo culto ou adoração de uma pessoa ou coisa.

j) Sincretismo: é a fusão de traços de diversas religiões ou culturas religiosas, que tem como resultado um novo complexo religioso.

¨ O sincretismo é a forma que reúne elementos de diferentes religiões, recompondo-os numa unidade híbrida.

¨ O pensamento sincretista aceita, fundamentalmente, que nenhuma religião possa prevalecer sobre a outra - por não possuir totalmente a verdade -, afirmando então que é necessário procurar reunir os melhores elementos das precedentes formas religiosas.

5.5.5.Práticas religiosas

Distinguimos a práticas válidas e a errôneas.

1º) Práticas válidas ou autênticas

a) Adoração: é ato supremo de culto a Deus, reconhecendo-o Criador, Salvador e Senhor de tudo.

¨ É o primeiro ato da virtude da religião.

¨ Reconhece Deus como digno da suprema honra por sua perfeição infinita e por seu domínio absoluto sobre a criação.

¨ É essencialmente um ato da mente e da vontade, mas é comumente expresso em atos externos de sacrifício, prece e reverência.

b) : é uma virtude sobrenatural infusa, pela qual cremos em Deus e aceitamos sua revelação, contida na Bíblia e na Tradição.

¨ A Bíblia é a coleção dos livros sagrados, escritos sob inspiração do Espírito Santo e reconhecidos pela Igreja como canônicos (73 livros).

¨ A Tradição é a palavra de Deus não escrita, mas comunicada de viva voz por Jesus Cristo e pelos apóstolos, e transmitida, sem alteração, de século em século até nós, pelo magistério da Igreja.

c) Esperança: é uma virtude infusa, pela qual confiamos alcançar de Deus a vida eterna e o Reino de Deus, com os meios necessários para consegui-los, pois Deus é fiel a suas promessas.

d) Caridade: é uma virtude sobrenatural infusa, pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

e) Virtude da religião: é a atitude pela qual prestamos a devida reverência e louvor a Deus como Senhor e Criador.

f) Oração: é a comunicação com Deus, para conhecer sua vontade e pedir-lhe forças para realizá-la na vida.

g) Sacrifício: é a forma de culto pela qual se oferece um animal (vítima) ou um elemento vegetal a Deus em reconhecimento do poder supremo de Deus, pois ele tem o domínio perfeito sobre todas as coisas.

h) Promessa: é um ato religioso pelo qual se promete a Deus fazer uma boa obra, dizer certa oração ou realizar um donativo a uma causa merecedora, como manifestação do respeito devido à majestade divina e do amor para com o Deus fiel.

i) Voto: é a promessa deliberada e livre de um bem possível e melhor, feito a Deus.

¨ Pelo voto, o cristão se consagra a si mesmo a Deus ou lhe promete uma boa obra.

2º) Práticas errôneas ou desviantes

a) Superstição: é atribuir a pessoas, objetos, fatos e acontecimentos uma força e uma poder que eles não possuem, levado pelo medo ou pela ilusão de conseguir favores ou proteção.

b) Fanatismo: é o ato pelo qual a pessoa se julga em posse de toda a verdade, defende seu ponto de vista com paixão, busca impor sua opinião aos outros e, no trato com os outros, torna-se radical.

c) Fundamentalismo: designa a atitude de pessoas e grupos que se apegam às suas tradições e crenças, insistem na interpretação literal dos textos sagrados e fecham-se às suas práticas, sendo críticos e intolerantes com os outros.

d) Apego a curas e fenômenos (curandeísmo): refere-se a pessoas e grupos (seitas) que buscam na cura rápida e nos fenômenos sensíveis e extraordinários sua expressão religiosa, mediante diversas práticas (exorcismo do demônio, espírito ou energia negativa), sem considerar as causas naturais das doenças e dos problemas humanos e, muito menos, o comprometimento com as soluções verdadeiras de questões de saúde e de organização de vida pessoal e social.

e) Idolatria: dar culto a uma criatura (pessoa, instituição, força...), que é devido somente ao Deus verdadeiro.

f) Adivinhação: busca conhecer o futuro recorrendo ao espírito do mal ou aos espíritos dos mortos ou a supostos poderes ocultos, em vez de confiar na providência de Deus.

g) Magia: apóia na crença de que certas pessoas, objetos e ritos possuem uma força misteriosa, em virtude da qual, e por determinados meios, exercem um influxo inevitável e quase sempre negativo.

h) Feitiçaria: é o uso de práticas supersticiosas para submeter as vítimas a influências maléficas, servindo-se de fórmulas, palavras acompanhadas de ações rituais, de tal maneira que se acredita que se consegue poder sobre as pessoas ou objetos (feitiço).

i) Bruxaria: consiste no exercício ou manipulação dos poderes sobrenaturais, atribuídos a pessoas (bruxos), que se supõem implicados com um ser misterioso ou o diabo.

j) Sacrilégio: é profanar ou suar de maneira indevida os sacramentos ou outras ações litúrgicas, ou pessoas, coisas e lugares consagrados.

k) Simonia: é compra ou venda de alguma coisa espiritual (graça, sacramentos...) ou qualquer objeto sagrado, intimamente ligado ao espiritual (uma relíquia...).

l) Blasfêmia: falar ou agir contra Deus (ou contra pessoas ou objetos consagrados a Deus) de forma arrogante e irreverente.

m) Satanismo: consiste em recorrer ou invocar o demônio para obter dele favores e benefício em troca do culto a ele.

5.6. Educação, transmissora da cultura

5.6.1.Conceito de educação

A educação é transmissora da cultura na sociedade.

® A educação é o processo pelo qual as gerações adultas transmitem às mais jovens, de maneira informal ou formal, seus padrões de comportamento, valores, herança cultural e conhecimentos, de modo a integrá-los produtivamente na sociedade.

® É por meio da educação que os povos transmitem às gerações mais novas sua herança cultural, conhecimentos, modo de vida, regras e valores.

® Ao passar pela educação, as pessoas adquirem as informações necessárias para uma vida ativa em sociedade e, ao mesmo tempo, são preparadas para conviver com os outros de acordo com as normas dos grupos sociais a que pertencem.

® Em todos os momentos de sua vida, começando pelo nascimento e família e, depois, com sua interação com a sociedade, a pessoa está assimilando valores e regras por meio da educação.

5.6.2.Objetivos da educação

Os principais objetivos da educação são:

1º) Transmissão da cultura

2º) Adaptação das pessoas à sociedade

3º) Desenvolvimento das potencialidades da pessoa

4º) Desenvolvimento da personalidade e da própria sociedade.

5.6.3.Processo educativo

A educação pode ser informal ou formal

a) Educação informal, assistemática ou difusa

A educação informal, assistemática ou difusa, é o processo de transmissão da cultura por intermédio da família ou da convivência com o grupo adulto, sem escola.

® A educação informal ocorre na vida diária por meio dos contatos primários (família) e pelo aprendizado de tarefas normais de cada grupo social, pela observação do comportamento dos mais velhos, pela convivência com outros membros da sociedade.

® É assistemática, ou seja, a educação é realizada sem nenhum plano, sem local ou hora determinada.

® Todas as pessoas e sociedades participam dessa forma de educação.

b) Educação formal, sistemática ou organizada

A educação formal, sistemática ou organizada, é o processo de transmissão de cultura por meio das escolas, que continuam o aprendizado da família e de outros grupos sociais.

® Tal formação é formal ou sistemática, ou seja, obedece a uma organização previamente planejada.

® Seu objetivo básico é a transmissão de determinados legados culturais, ou seja, de certos conhecimentos, técnicas ou modos de vida, de maneira a preparar a pessoa para os papeias que ela será chamada a desempenhar ao longo da vida em sociedade (profissão...).

® Embora esteja sempre presente na vida da pessoa, em sociedades complexas a educação informal não é suficiente, tendo em vista que a divisão de trabalho e a diversidade de papéis exigem de crianças e jovens a passagem pela escola, onde recebem a educação formal.

® A instrução formal é uma modalidade organizada, metódica e seletiva da educação, já que, diante das características de cada sociedade, seus promotores selecionam os aspectos que consideram essenciais ou mais necessários para serem transmitidos.

5.7. Crescimento do patrimônio cultural

5.7.1.Crescimento cultural

O patrimônio de uma cultura cresce de geração em geração.

® Cada geração passa por processos de aprendizagem, nos quais assimila a cultura de seu tempo e se torna apta a enriquecer o patrimônio cultural das gerações futuras.

® É na capacidade que os grupos têm de perpetuar e acrescentar novos valores à cultura que reside a possibilidade de progresso.

® Todo o progresso é resultante da síntese de valores novos com componentes culturais já adquiridos.

® Assim, a cultura é o somatório de todas as realizações das gerações passadas que se sucedem no tempo, acrescendo as realizações da geração presente.

5.7.2.Fatores de crescimento cultural

O enriquecimento patrimonial de uma cultura se faz por meio de dois processos: a invenção e a difusão.

1º) Invenção: é a combinação de traços já existentes, dando como resultado um traço cultural novo.

2º) Difusão: é a propagação de alguns traços novos não só na sociedade de origem, mas também entre culturas diferentes, geralmente através dos meios de comunicação.

5.7.3.Retardamento cultural e choque cultural

O retardamento cultural e o choque cultural são processos que causam desequilíbrios na vida cultural do grupo social ou do povo.

® Tais processos podem ser assim explicitados:

¨ O retardamento cultural (ou demora) é a situação que resulta do crescimento desigual dos diversos setores da cultura

Í As mudanças dos diversos componentes da cultura não acontecem ao mesmo tempo, pois alguns aspectos se transformam mais rapidamente do que outros.

Í As invenções acarretam mudanças mais aceleradas na cultura material (instrumentos, máquinas e técnicas) do que na cultura não-material (religião, padrões familiares e educação).

Í Essa diferença de ritmo provoca descompassos entre os diversos componentes da cultura.

Í Assim a demora cultural se verifica quando ocorrem diferenças no ritmo com que se desenvolvem os diversos aspectos da cultura (material e não-material), criando-se desajuste.

¨ O choque cultural é o conflito cultural resultante do encontro de duas ou mais culturas diferentes.

Í O choque cultural é capaz de desintegrar uma ou grande parte das culturas em contatos.

5.7.4.Fatores desfavoráveis das mudanças culturais

Os principais fatores que não favorecem as mudanças culturais são:

¨ A inércia cultural é capacidade de resistência à mudança social de certos aspectos culturais.

¨ Os obstáculos culturais são as barreiras oriundas da própria estrutura da sociedade e da cultura do povo, que dificultam ou impedem a mudança cultural.

¨ As resistências culturais são reações conscientes e deliberadas de grupos ou de camadas sociais para impedir a mudança cultural, pois seus interesses são diretamente atingidos pela introdução de novos valores.

5.8. Fenômenos culturais

Os principais fenômenos culturais são:

5.8.1.Aculturação

a) Contato cultural e mudança cultural

O contato cultural e a mudança cultural são descritos assim:

¨ O contato cultural é a relação que as pessoas ou os grupos culturais diferentes estabelecem, determinando, geralmente, aculturação, conflitos ou mudanças.

¨ A mudança cultural é toda a transformação, observável no tempo, que afeta, de maneira que não seja provisória ou efêmera, a estrutura ou o funcionamento da organização social de dada coletividade e modifica o curso da história.

Í A mudança cultural é a modificação de estrutura resultante da ação histórica de certos fatores ou de certos grupos no seio de dada coletividade.

b) Aculturação

A aculturação é o processo que ocorre quando duas ou mais culturas diferentes entram em contato contínuo, originando mudanças importantes em uma delas ou em ambas.

® Quando dois ou mais grupos entram em contato direto e contínuo, geralmente sofrem mudanças culturais, pois verifica-se transmissão de traços culturais de uma sociedade para a outra.

® Alguns desses traços são rejeitados e outros aceitos, incorporando-se, frequentemente com alterações significativas, à cultura resultante.

® A aculturação é o processo de mudança cultural que se verifica numa pessoa ou grupo pelo contato com uma cultura que não é sua, ou pela interação de duas ou mais culturas distintas.

® Por isso, a aculturação é a fusão de culturas diversas que dá origem a uma nova cultura.

c) Transculturação, transmissão social e transição cultural

A transculturação, a transmissão social e transição social são processos sociais e culturais que acontecem na vida das pessoas e dos grupos sociais.

Tais processos podem ser assim caracterizados:

¨ A transculturação é o processo de difusão e infiltração de complexos ou traços culturais de uma para outra sociedade ou grupo cultural; troca de elementos culturais.

¨ A transmissão social é a difusão de aspectos culturais pelas sociedades humanas, que passa de um estágio mais atrasado para um estágio mais avançado.

¨ A transição social é o processo de mudança na estrutura social de uma sociedade, que passa de um estágio mais atrasado para um estágio mais avançado.

d) Marginalidade cultural

A marginalidade cultural é o conflito mental que ocorre quando uma pessoa (ou grupo de pessoas) entra em contato com outra cultura

® Quando duas culturas entram em contato, podem ocorrer conflitos emocionais nas pessoas que pertencem a ambas as culturas, pois tais conflitos originam-se da insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da sua.

® Nos processos de assimilação ou aculturação decorrentes desse contato, muitos indivíduos não conseguem se integrar nem à sua antiga cultura nem à que está se modificando.

® Essas pessoas entram em conflito mental permanente com a nova situação, perdendo sua identidade cultural e marginalizando-se socialmente.

® Aqueles que não conseguem se integrar totalmente a nenhuma das culturas que os rodeia ficam à margem da sociedade, caracterizando o fenômeno da marginalidade cultural.

e) Contracultura

A contracultura é a cultura alternativa (ou marginal), que corresponde a uma forma de manifestação cultural em oposição aos valores tradicionais estabelecidos pela sociedade.

® A contracultura é um movimento de pessoas que se opõe radicalmente a determinados valores considerados importantes numa sociedade dividida em classes sociais, como o patriotismo, o trabalho obrigatório, a acumulação de riquezas e a ascensão social.

® Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores culturais vigentes, opondo-se radicalmente a eles, gerando a contracultura.

® A contracultura é um movimento cultural que se coloca contra a cultura dominante em uma sociedade, ao questionar tais valores e buscar alternativa que considera mais adequada para sua realidade.

® Foi o caso, por exemplo, do movimento hippie, durante a década de 1960, que discutia a sociedade de consumo, o racionalismo, os valores estéticos e morais e o patriotismo.

Í Contrapartida, defendia a criação de sociedades alternativas, o amor livre, a alimentação vegetariana, a espiritualidade e o transcendentalismo, de tal modo que muitos jovens dessa época deixaram a casa e a universidade para viver em comunidades no campo, onde plantavam e produziam a própria comida e educavam seus filhos com base em valores mais humanizados.

5.8.2.Socialização

a) O que é socialização

A socialização é o processo pelo qual a pessoa se integra ao grupo ou à sociedade em que nasceu, assimilando seus hábitos, valores, costumes e outros traços culturais.

® A socialização é o processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana aprende e interioriza os elementos sócio-culturais do seu meio, integrando-os na estrutura da sua personalidade sob a influência de experiências de agentes sociais significativos, adaptando-se assim ao ambiente social em que deve viver.

® A socialização é o ato de transmitir, de introjetar na mente da pessoa os padrões culturais da sociedade.

® A socialização é um processo social abrangente, pois afeta direta ou indiretamente todas as pessoas que vivem em uma determinada comunidade ou sociedade.

® Pela socialização a pessoa, naturalmente social, torna-se sociável, ou seja, capaz de viver em sociedade.

b) Adaptação

A adaptação é o conjunto de modificações que uma pessoa, ou grupo de pessoas experimenta para se ajustar ao ambiente social.

® Em seu sentido original, a adaptação é também o processo biológico pelo qual o organismo se ajusta ao ambiente físico em que vive.

® Psicologicamente, a adaptação é a alteração do comportamento da pessoa que lhe permite um maior ajustamento ao meio em que se insere.

® Na vida social, a adaptação significa o surgimento de um denominador comum entre os componentes de uma sociedade particular, certo grau de adesão às normas estabelecidas.

® A adaptação varia com a margem de liberdade e de autonomia que o meio social permite ao indivíduo.

c) Controle social

O controle social são formas pelas quais a sociedade introjeta os valores do grupo na mente de seus membros, para evitar que adotem um comportamento divergente.

® O controle social funciona como um importante instrumento de socialização.

® O principal objetivo do controle social é fazer com cada pessoa tenha o comportamento socialmente esperando.

® A primeira agência de controle social é a família, pois, desde que nasce, a criança é orientada, educada e moldada pelo grupo familiar.

® Depois da família, temos a Igreja, a escola e o Estado, que são todas as agências formais ou institucionais de controle social.

d) Tipos de controle social

O controle social pode ser informal e formal

¨ O controle informal ou difuso é natural, espontâneo, baseado nas relações pessoais e íntimas que ligam os componentes do grupo.

Í Nas comunidades isoladas e pequenas, como os povoados do interior ou aldeias indígenas, o controle social é difuso, vago, muitas vezes de caráter religioso.

¨ O controle formal ou institucional é artificial, organizado, exercido principalmente pelos grupos secundários, onde as relações são formais e impessoais.

Í Nas sociedades complexas, o controle social é institucional, ou seja, há órgãos e instituições sociais encarregadas de sua aplicação (polícia, órgãos jurídicos, Estado, etc.).

Í Nas sociedades modernas os sistemas de controle são quase totalmente institucionalizados, ou seja, dependem mais de leis e regras estabelecidas do que normas impostas pela tradição.

e) Funções do controle social

À medida que as sociedades vão se tornando mais complexas, os sistemas de controle passam a assumir diferentes funções.

® As funções do controle social não se impõem meramente para punir ações ilícitas ou fazer valer determinadas normas e padrões, mas também têm a finalidade de manter o equilíbrio da sociedade e de dar proteção social efetiva aos seus membros socialmente desamparados.

® De modo geral, podemos falar de três funções do controle social:

¨ A função de ordem social: as funções de controle social ligam-se à aplicação de normas e de leis (Estado, polícia e tribunais de justiça).

¨ A função de proteção social: as funções de controle social relacionam-se ao cumprimento de normas que beneficiam setores menos protegidos da sociedade (previdência social, proteção dos direitos humanos, das crianças, dos adolescentes, da mulher e dos idosos, defesa do meio ambiente, assistência médica universal e garantia da igualdade de direitos na educação).

¨ A função de eficiência social: as funções de controle social estão relacionadas com regras e procedimentos que levam as pessoas a contribuir de forma produtiva para o bem-estar e o desenvolvimento da sociedade (proteção ao trabalho, ações cooperativas, formação profissional e cuidados com a saúde pública e com a educação em geral).

5.8.3.Endoculturação

a) O que é endoculturação

A endoculturação é o processo de aprendizagem e educação de uma cultura, desde a infância até à idade adulta.

® A endoculturação é o processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte.

® Este processo de aprendizagem é permanente, desde a infância até à idade adulta de um indivíduo.

® A medida que o individuo nasce, cresce, e desenvolve, ele aprende envolvendo-se cada vez mais a agir da forma que lhe foi ensinado.

® A endoculturação faz parte do processo da dinâmica cultural, tal como a aculturação e a desculturação.

b) Incorporação

A incorporação é o processo no qual a pessoa assimila a cultura existente.

® A incorporação é a ação pela qual a pessoa absolve os conteúdos ensinados, aprendendo os conceitos fundamentais e interioriza as relações com outros sujeitos e com os objetos que a rodeiam.

® Pela incorporação, a pessoa integra e interioriza os valores, as crenças, as motivações e as atitudes do grupo no qual está inserida.

® A incorporação identifica a pessoa com o grupo social e sua cultural.

® Por isso, a incorporação leva a pessoa a se insere no grupo social e a exercer nele seu papel ativo.

c) Imitação

A imitação é a reprodução, intencional ou não, dos gestos, palavras e atos de outrem.

® A imitação é a ação em que a pessoa copia, conscientemente e ou não, determinado comportamento dos outros.

® A imitação é inspirar-se em alguém, utilizando-o como modelo para suas obras ou comportamento.

® A imitação é facilitada pela observação da pessoa, pela sua relação afetiva e proximidade com os outros, pela consideração da semelhança que ela tem com o modelo a ser reproduzido e pela influência que outrem exerce sobre ela.

® O comportamento imitativo é muito importante na vida em sociedade, pois permite a aprendizagem dos padrões socialmente aceitos.

d) Inculturação

A inculturação é um método de introduzir a cultura, aspectos culturais de um determinado povo à sua cultura.

® Exemplo: Uma pessoa chega em um lugar diferente em que as pessoas tem seus costumes, e essa pessoa acaba adquirindo aspectos culturais que não tinha em sua cultura.

® Este tipo de cultura é quase que criado para a pessoa se tornar ou fazer parte de uma cultura à força.

® Trata-se de um termo típico do linguajar religioso e de recente utilização no discurso missiológico(Missões).

® Na teologia cristã, a inculturação é o processo pelo qual a mensagem cristã se insere progressivamente num determinada cultura.

5.9. Desafios culturais

Destacamos os seguintes desafios culturais:

1º) Cultura de folk: é a cultura dos povos iletrados (“folk” = povo).

Í É um sistema de crenças e valores das sociedades mais ou menos isoladas, de caráter predominantemente rural e que se caracterizam por uma cultura basicamente oral.

Í É uma cultura pequena, homogênea, economicamente auto-suficiente, de tecnologia simples e economia fundamentada na troca, com divisão do trabalho rudimentar e baseada, principalmente, no sexo, parentesco e idade.

Í É cultura relativamente integrada, com modos de vida intimamente relacionados, e possuindo uma concordância mútua, tendo comportamento fortemente padronizado, em bases convencionais; tradicional, espontânea, não crítica e com forte senso de solidariedade grupal.

Í Tem mudança cultural e social lenta, possuindo formas de controle tradicionais, com cunho de espontaneidade, isto é, informais; sociedade familiar e sagrada, com animismo e antropomorfismo.

2º) Cultura de massas: é o conjunto de manifestações culturais que não está ligado a nenhum grupo social específico, pois é transmitida de maneira industrializada para um público formado por diferentes camadas socioeconômicas, por intermédio dos meios de comunicação de massa.

Í É a divulgação, sem que se possa contestá-las ou debatê-las, de mensagens pré-fabricadas, cuja mediocridade prevê a sua aceitação por pessoas de qualquer nível de conhecimento e idade mental.

Í Nivela "por baixo" as informações, uniformizando o uniforme e sintetizando os lugares-comuns.

Í Sua finalidade é tornar a cultura um conjunto semelhante, constante e não questionado.

Í Surge dessa cultura a indústria cultural.

¨ A industrialização em larga escala de bens culturais, incluindo traços da cultura erudita e da popular, deu início à chamada indústria cultural.

¨ Ao mesmo tempo, o incessante desenvolvimento da tecnologia, principalmente nos meios de comunicação (fotografia, disco, cinema, rádio, televisão etc.), permitindo a produção de bens culturais em escala crescente e colocando-os à disposição de um grande número de pessoas, originou a chamada cultura de massa.

3º) Cultura erudita (de elite): é a cultura que se adquire de maneira organizada e formal, sobretudo por meio de escolas e livros.

Í A elite compreende as pessoas e os grupos que, graças ao poder que detêm ou à influência que exercem, contribuem para a ação histórica de uma coletividade, seja pelas decisões tomadas, seja pelas idéias, sentimentos ou emoções que exprimem ou simbolizam.

Í Aqui, a cultura designa o conjunto de conhecimentos e teorias.

Í A cultura erudita é a cultura que aprendemos de maneira organizada nas escolas, nos livros, nos museus e outros.

Í A cultura erudita é a cultura que recebemos por meio das instituições, como o Estado, a família e a Igreja.

Í A cultura erudita ainda é a que consumimos por meio de jornais, teatro, cinema, revistas e televisão.

4º) Cultura popular: é um conjunto de crenças, valores, prática, objetos materiais e tradições criadas pelas camadas mais baixas da sociedade de forma espontânea e sem a intermediação direta da cultura erudita.

Í A cultura popular compreende as manifestações tradicionais da cultura, geralmente transmitida oralmente, de geração para geração, em especial nas festas religiosas e populares.

Í A cultura popular é chamada cultura espontânea, mais próxima do senso comum, transmitida quase sempre oralmente.

Í Da mesma forma que a cultura erudita, a cultura popular alcança formas artísticas expressivas e significativas.

Í Entre as manifestações da cultura popular, podemos lembrar as lendas folclóricas, as canções de ninar, as ladainhas, as cantigas, os jograis, a literatura de cordel e o repentismo.

5º) Cibercultura: é o novo tipo de cultura, nascido da combinação entre a sociabilidade na chamada comunicação interativa pós-moderna e os avanços da microeletrônica.

Í Tal cultura nasce da comunicação interativa (interatividade), que é o processo marcado pela possibilidade de trocas de informações simultâneas e acesso imediato a qualquer parte do mundo por intermédio da rede mundial de computadores.

Í É fruto da cibernética, que é a ciência que estuda a comunicação e o sistema de controle das máquinas, e que focaliza principalmente os computadores.

Í É cultivada e veiculada pelo ciberespaço, ou seja, o espaço virtual criado pela Internet para a navegação eletrônica, o conhecimento e a comunicação.

Í Esse espaço virtual é formado pelo conjunto de usuários conectados à rede mundial de computadores e abarca as chamadas comunidades virtuais ou eletrônicas.

6º) Folclore: é o conjunto espontâneo de tradições, costumes, crenças e lendas que expressam o modo de sentir, pensar e agir de uma determinada população.

Í O termo foi criado, em 1846, pelo escritor inglês Willian John Thomas.

Í O folclore é uma forma comum da cultura popular de um país ou região, quase sempre transmitida oralmente.

Í O folclore se expressa em canções provérbios, danças, versos, prosa, historietas, casos e outras manifestações culturais.

Í O folclore designa o modo popular de vida no seio de sociedades civilizadas e históricas.

5.10. Diversidade cultural

a) Conceito de diversidade cultural

A diversidade cultural designa a coexistência de diferentes culturas, que mantêm certo grau de identidade.

® No campo da antropologia cultural, a variedade de hábitos, costumes, comportamentos, crenças e valores, e a aceitação da diferença no outro (chamada de alteridade).

® A diversidade cultural engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas, como a linguagem, danças, vestuário e tradições, bem como a forma como as sociedades organizam-se conforme a sua concepção de moral e de religião, a forma como eles interagem com o ambiente.

® A diversidade diz respeito à pluralidade e convivência de idéias, crenças, valores, instituições, comportamentoes e regras, que permeiam e preenchem a sociedade.

b) Origem da diversidade cultural

A diversidade cultural resulta do crescimento e da propagação das populações humanas para as diversas regiões do humano.

® Há um consenso geral entre os principais antropólogos que o primeiro homem surgiu na Europa, há cerca de dois milhões de anos atrás.

® Desde então, os seres humanos têm se nos espalhado por todo o mundo, com sucesso em se adaptarem às diferentes condições, como por exemplo, as mudanças climáticas.

® As muitas sociedades que surgiram separadas por todo o globo diferiam sensivelmente umas das outras, e muitas dessas diferenças persistem até hoje.

® Bem como os mais evidentes as diferenças culturais que existem entre os povos, como a língua, vestimenta e tradições, também existem variações significativas na forma como as sociedades organizam-se na sua concepção partilhada da moralidade e na maneira como interagem no seu ambiente.

c) Diversidade cultural no Brasil

A diversidade cultural caracteriza a realidade brasileira.

® No Brasil há diversas culturas, em geral mestiçadas.

® Há a cultura latino-americana, européia, indígena, afro-brasileira e de outros povos.

® Todas as culturas estão sofrendo o impacto da cultura urbano-industrial.

® Por isso, é preciso conhecer melhor cada cultura e entender mais os costumes que existem nas diversas regiões brasileiras.

5.11. Cultura e catequese

A catequese valoriza a cultura.

® A catequese está seriamente empenhada em entrar em diálogo com a cultura humana e com as culturas dos povos e grupos.

® A própria catequese é aprendizado e transmissão da cultura religiosa.

® A catequese deve levar em conta a diversidade cultural que existe hoje.

® A catequese deve integrar o processo da inculturação da fé, procurando fazer a passagem de valores do Evangelho para dentro de uma cultura, enriquecendo-a ou purificando-a, se necessário, e com respeito, sem opressão.

6. PLURALISMO RELIGIOSO

6.1. Conceito de pluralismo religioso

O pluralismo religioso designa as diferentes religiões que coexistem numa determinada sociedade.

® Cada religião mantém sua própria identidade, com suas crenças, ritos e práticas próprios.

® Numa sociedade globalizada, moderna e pós-moderna, o pluralismo religioso cresce a cada dia, não só as religiões instituições vão se mundializando, como também há o aparecimento e a proliferação de novos movimentos religiosos.

® Na sociedade atual há o trânsito religioso, possibilitando a facilidade para qualquer pessoa mudar de uma religião para outra ou freqüentar várias ao mesmo tempo, sem problemas de consciência e de constrangimento.

® Estamos na era das religiões sem fronteiras, pois elas se espalham e se fragmentam, para atender ao “mercado religioso”, seguindo a lei da procura e da oferta.

6.2. Pluralismo religioso no Brasil

A sociedade brasileira é hoje fortemente marcada pelo pluralismo religioso.

® O campo religioso brasileiro caracterizou-se, até o final do século XIX, pela hegemonia e pelo monopólio legal por parte do catolicismo, em decorrência da configuração do projeto colonial implantado no Brasil.

® No decorrer do século XIX aconteceram as principais mudanças que configuram o pluralismo no campo religioso no Brasil, por causa do ingresso das Igrejas protestantes históricas a partir de 1824, da chegada das Igrejas pentecostais no século XX e da separação da Igreja-Estado, decorrente da proclamação da República, tirou da Igreja católica romana o monopólio legal.

® O pluralismo religioso acentuou-se muito nos últimos anos, tanto no plano quantitativo quanto na variedade das formas.

® A própria percentagem dos que se declaram católicos tem diminuído nós últimos quarenta anos, pois o Censo de 1970 contava 91,77% de católicos e o último Censo 73,3% em nível nacional.

7. PROCESSOS SÓCIO-CULTURAIS NEGATIVOS

7.1. Conceito

Os processos sócio-culturais negativos são o conjunto de mecanismos que interferem, dificultam ou limitam a visão que as pessoas têm sobre si mesmas, os outros e as culturas que existem na sociedade.

® Em geral, os processos sócio-culturais negativos são ideológicos, porque são produzidos por idéias falsas e enganadoras destinadas a mascarar a realidade.

® Nos processos sócio-culturais, predomina falsa consciência do mundo, porque a percepção da pessoa não é verdadeira, ou seja, não corresponde aos fatos reais.

® São compreensões errôneas sobre pessoas e fenômenos sociais e culturais, internalizados e socializados, que passam a orientar a conduta da pessoa.

® Os processos sócio-culturais são transmitidos de geração a geração pelo aprendizado do senso comum, sem reflexão crítica e profunda.

7.2. Diversos tipos de processos sócio-religiosos negativos

Destacamos os seguintes tipos de processos sócio-religiosos negativos.

1º) Esteriótipos: são construções mentais falsas, imagens e idéias de conteúdo não-lógico, que estabelecem critérios socialmente falsificados.

Í Os critérios baseiam-se em características não comprovadas e não demonstradas, atribuídas a pessoas, a coisas e a situações sociais, mas que, na realidade, não existem.

Í Os esteriótipos sãos imagens errôneas e simplificadas de uma realidade (pessoa, grupo ou objeto), formada, não a partir da experiência, mas de uma atitude preconceituosa.

Í Os esteriótipos revelam seu significado e sua influência na sociedade porque constituem a base do preconceito, que por sua vez é usado para justificar discriminação e atitudes negativas diante de pessoas ou grupos.

Í Os esteriótipos são considerados indesejáveis devido ao papel importante que desempenham na opressão social, baseada em características como raça, sexo, religião, etnia, idade, classe social ou cultura.

2º) Preconceito: é a atitude social que surge em condições de conflito a finalidade de auxiliar a manutenção do status ameaçado.

Í O preconceito é uma um concepção formada antes de se possuir conhecimento adequado sobre o assunto, não tendo base de reflexão racional ou crítica, que influi no raciocínio e na ação da pessoa e dos grupos na sociedade.

Í O preconceito de classe é a atitude de descriminação contra pessoas de outras classes sociais.

Í O preconceito racial é a atitude de discriminação contra as pessoas que possuam traços ou características de determinado grupo étnico.

Í Como atitude, o preconceito combina crenças e juízos de valor com predisposições emocionais (hostilidade, desprezo, ódio e temor).

3º) Discriminação: é o tratamento desigual que se dá a grupos ou pessoas que, pelos menos em teoria, são considerados iguais, no conjunto da sociedade.

Í A discriminação é o tratamento menos favorável de uma pessoa em relação à outra ou outras, em função de diferenças de sexo, raça, etnia, cultura, situação econômica, classe social, ideologia, política e religião.

Í Há um tratamento discriminatório sempre que, reconhecendo-se a igualdade de todos perante a lei e o costume, aprova-se ou tolera-se um tratamento diferenciado.

Í No ato discriminatório, pelos menos três elementos costumam estar presentes: a injustiça, a imotivação (sem fundamento ou razão de ser) e o arbítrio.

Í Em geral, a discriminação apóia-se na necessidade que certos grupos sentem de defender seus interesses ameaçados e manter seus privilégios.

4º) Segregação: é a situação na qual uma pessoa ou grupo é separado do convívio com outras pessoas ou grupos dentro de uma sociedade.

Í A segregação é a política destinada a separar e isolar certas pessoas ou grupos sociais do contato com a parcela dominante da sociedade.

Í A segregação separa as pessoas ou grupos por causa da raça, classe social, cultura, condições econômicas, língua e ideologia.

Í A segregação racial é uma forma extrema de preconceito étnico.

Í A segregação racial consiste em separar do contato com a raça dominante as pessoas da raça considerada inferior.

5º) Alienação: é a situação na qual a pessoa fica alheia a um fato, acontecimento ou processo, transferindo para os outros a responsabilidade de pensar e agir.

Í A alienação é o processo que deriva de uma ligação essencial à ação, à sua consciência e à situação das pessoas, pelo qual se oculta ou se falsifica essa ligação, de modo que o processo e os seus produtos apareçam como indiferentes, independentes ou superiores aos homens que são, na verdade, seus criadores.

Í No momento em que a uma pessoa o mundo parece constituído de coisas – independentes umas das outras e não relacionadas – indiferentes à sua consciência, diz-se que esse indivíduo se encontra em estado de alienação.

Í A alienação abrange as condições de trabalho, em que os produtos são separados dos interesses e do alcance de que os produziu.

Í Em sentido amplo afirma-se que é alienado o indivíduo que não tem visão – política, econômica, social – da sociedade e do papel que nela desempenha.

6º) Tabu: é a proibição imposta às pessoas de se relacionarem com os objetos, lugares ou seres humanos considerados sagrados..

Í O tabu designa imposições (principalmente proibições) de mérito, apresentadas como inquestionáveis, ou seja, cuja origem e validade não são lícitas indagar.

Í O tabu encontra-se na base das religiões ágrafas (= sem escrita), nas quais inexistem esforços de justificação racional.

Í Por vezes, essas imposições coincidem com preconceitos, conduzindo à ordem social ou a práticas higiênicas, mas não se imagina, mesmo nesses casos, qualquer fundamento de ordem lógica.

Í O tabu é a proibição que se baseia na sanção mágico religiosa: por abstenção, apóia-se num tipo de punição automática, como, por exemplo, a proibição que acarreta castigo divino.

8. POSTURA DO CATEQUISTA

8.1. Diálogo cultural e religioso

Em sua práxis educativa, o catequista é chamado a realizar o diálogo cultural e religioso, pelo qual entra em comunicação respeitosa com as culturas e religiões.

® O diálogo cultural é o diálogo do catequista com as culturas tradicionais, modernas e pós-modernas e outros setores de nossa sociedade (razão, filosofia, ciência, tecnologia, empresários, intelectuais, universidades e professores).

® O diálogo ecumênico e inter-religioso é o diálogo que os catequistas fazem com os grupos cristãos e religiosos que existem no mundo de hoje.

® O diálogo ecumênico é importante para os catequistas porque demonstra a unidade entre os cristãos e o testemunho de fé para que o mundo possa crer em Jesus (cf. Jo 17,21).

® O diálogo inter-religioso é necessário para os cristãos, judeus e outras religiões porque proporciona o conhecimento e respeito entre eles, abre caminhos para a construção de uma nova humanidade, promove a liberdade e a dignidade dos povos, estimula a colaboração para o bem comum, supera a violência motivada por atitudes religiosas fundamentalistas, educa para a paz e a convivência cidadã.

8.2. Inculturação

Seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o Verbo encarnado na história humana, é urgente o catequista assumira a inculturação do Evangelho nas culturas.

® A inculturação é o processo pelo qual a mensagem cristã se insere progressivamente numa determinada cultura.

® A inculturação é a ação da passagem dos valores do Evangelho para dentro de uma cultura, enriquecendo-a ou purificando-a, se necessário, com respeito, sem opressão ou destruição.

® Para isso é preciso que o catequista conheça melhor cada cultura e entenda melhor os costumes do povo brasileiro, a fim de apresentar o Evangelho de modo mais familiar e eficiente.

® Diante do contexto sócio-cultural brasileiro, a catequese é chamada a anunciar com vigor o Evangelho ao coração da cultura e das culturas, para Jesus Cristo, o único Salvador, possa assumir no seu Corpo, que é a Igreja, todas as culturas, penetrando-as, purificando-as, transformando-as e enriquecendo-as com sua graça e seus valores, e, com isso, salvando-as.

8.3. Fidelidade do catequista

Em virtude de seu ministério profético, que anuncia o Evangelho de Jesus, o catequista deve ser fiel à sua missão de educar os catequizandos na fé, cumprindo bem as seguintes tarefas:

1º) Formação humana

Í Busca promover a formação da pessoa humana em sua plenitude.

Í Auxilia cada ser humano a se desenvolver e crescer como pessoa humana, de maneira harmônica, integral e dinâmica.

2º) Instrução doutrinária

Í Favorece o conhecimento da fé cristã.

Í Introduz o discípulo no conhecimento de Jesus, da Tradição e da Escritura, das fórmulas da fé, particularmente do Credo Apostólico.

3º) Iniciação litúrgica

Í Educa o catequizando para a celebração.

Í Proporciona sua iniciação litúrgica, para que possa ser introduzido no mistério salvífico de Cristo nas celebrações da Igreja, de tenha nelas a participação ativa, interna e externa, consciente, plena e frutuosa.

4º) Educação ética

Í Oferece ao catequizando a formação moral.

Í Busca educar a consciência, as atitudes, e espírito e o projeto de vida dele segundo o Evangelho de Jesus.

5º) Formação espiritual

Í Conduz o catequizando à vida de oração.

Í Ensina o catequizando a rezar por Cristo, com Ele e nele, com os mesmos sentimentos e disposições com as quais Ele se dirige ao Pai: adoração, louvor, agradecimento, confiança, súplica e contemplação.

6º) Inserção eclesial e comunitária

Í Forma o catequizando para a vida comunitária.

Í Desperta nele a cor-responsabilidade eclesial, o sentido de integração, o sento de pertença, a necessidade de participação e de compromisso comunitário.

7º) Diálogo religioso

Í Suscita e aprofunda no educando o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.

Í Expondo com clareza a doutrina da Igreja Católica, provoca e alimenta o conhecimento, o respeito, a prática da unidade, do diálogo e da mútua cooperação com as denominações cristãs e outras religiões.

8º) Testemunho cristão

Í Mostra ao catequizando a importância do testemunho.

Í Ajuda o catequizando a consolidar a coerência de vida cristã, para tenha conduta íntegra, pura e correta, assumindo o caminho da santidade.

9º) Responsabilidade evangelizadora

Í Educa o catequizando para o compromisso com a missão, para que possa evangelizar.

Í Forma o discípulo de Jesus como missionário do Reino de Deus, que anuncia e propaga a boa nova da salvação aos outros.

10º) Compromisso profético

Í Desenvolve no catequizando o compromisso profético, social e libertador.

Í Educa o catequizando na leitura crítica e cristã da realidade, no conhecimento e aplicação da Doutrina Social da Igreja e na pesquisa das ciências humanas e sociais, para levá-lo ao compromisso dedicado e concreto em favor dos pobres e excluídos, da promoção da dignidade humana e da transformação da sociedade.

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R.

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