PEDAGOGIA DIVINA
1. Esmiuçando o termo “pedagogia divina”
O Termo pedagogia divina vem de Irineu de Lyon, Padre da Igreja. Viveu no século II e é considerado o primeiro teólogo da Igreja. Suas obras “Adversus Haereses” e “Demonstração da pregação apostólica” lhe mereceram o título de “doutor da Igreja” e santo.
São Irineu de Lyon expressou no que chamou de pedagogia divina a ação e iniciativa de Deus na historia humana, respeitando a liberdade do ser humano e seu processo de perfeição. Os dois agentes desta pedagogia divina são o Logos divino e o Pneuma, o Espírito Santo.(cf. obra “Patrística caminhos da tradição cristã, ed. Paulus, p. 89)
Deus, por sua iniciativa, se auto revela ao ser humano, e, também, conduz o ser humano para sua salvação, mas respeitando a condição histórica do ser humano. Nas palavras do Catecismo da Igreja Católica:
52 Deus, que "habita uma luz inacessível" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua própria vida divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos
53 O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras,
1953 intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente
1950 uma "pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
São Irineu de Lião fala repetidas vezes desta pedagogia divina sob a imagem da familiaridade mútua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai
2. Bíblia e pedagogia divina
É no estudo da Bíblia que podemos ver em ação esta pedagogia divina em funcionamento. A Historia do Povo de Israel com suas inspirações, traições, lutas, erros e acertos etc. se torna, assim, como que a argila em que Deus modela sua obra. Faz uso desta pequena parcela dos homens, regionalmente determinada, para tentar atingir todos os povos do mundo.
Os autores bíblicos, principalmente, após o exílio da Babilônia, tendo uma visão mais amadurecida, tem plena consciência desta ação modeladora e pedagógica de Deus sobre Israel.
Deus quis colaborar com o povo, apresentou a ele valores a serem vivenciados muito diferente dos vividos pelos povos vizinhos, isto tornado acordo com uma Aliança firmada entre ele e os patriarcas do povo. Esta Aliança é recordada, constantemente, pelos profetas durante a monarquia e pela tradição sacerdotal após o exílio, para tanto, se reconstruiu a história dos patriarcas, já contendo esta visão teológica.
Os ídolos, e a elite poderosa por trás do uso dos ídolos, aparecem neste contexto, como aqueles que vão contra os ensinamentos da Aliança. Disvirtuam o povo contra os valores propostos pela Aliança, fazendo o povo retornar aos costumes dos povos vizinhos.
O empenho de Deus para que Israel não voltasse atrás foi continuo, mas o pecado de Israel foi insistente. Culminou em várias tragédias: os traidores engolidos no deserto (Ex 16), as constantes idolatrias na época dos Juízes (Jz 2,16-17), os reis e os ricos que se voltavam para os ídolos esquecendo o Deus de Israel, levando a destruição de Jerusalém (2Cr 36, 13-21). Deus fiel a si mesmo, sempre mantém um caminho de graça, tendo uma pessoa ou um grupo como exemplo, Noé, Josué e Caleb, Esdras e Neemias, os expatriados na Babilônia.
Comumente ouvimos criticas à linguagem repleta de alegorias que encontramos no Livro do Gênesis, sua proximidade à linguagem mítica, especificamente na descrição da Criação são sempre vistas como causa de dúvidas sobre a sacralidade da Bíblia. Também, aqui entendera pedagogia divina é importante. O homem histórico ao se comunicar com a revelação de Deus entende conforme sua cultura, técnica e conhecimentos naturais. Portanto, o Gênesis fala da verdade sobre a criação realizada por Deus, mas da maneira e estilo próprio da época, em torno de
3. Jesus – plenitude do conhecimento de Deus
“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou à humanidade o Seu Filho, Jesus Cristo”(Gal 4,4-5)
Jesus é a Encarnação, na natureza humana, do Verbo. É a própria “Palavra de Deus” feita carne (Jo 1,14). Jesus Cristo torna-se para os homens de todos os tempos “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6). Ele manifesta o Reino de Deus por palavras e sinais.
O grande sinal, o único e original na História da Salvação é Jesus Cristo.
Jesus utiliza uma linguagem simples, muito próxima da linguagem das pessoas do seu tempo. Fala de sementeiras, de grãos lançados à terra, de pescadores e de redes, de pastores e rebanhos, de tesouros e de pérolas, de banquetes e casamentos, de construções na areia e na rocha, etc.
Jesus dirigia-se às pessoas, abordava privilegiadamente aquelas que mais necessitavam da Sua Boa Nova. É Ele que vai ao encontro de Zaqueu, (Luc 19), que toma a iniciativa com a Samaritana que tivera uma vida pessoal tão acidentada (Jo 4), que se aproxima do cego de nascença (Jo 9). Mas acolhe com a mesma atenção aqueles que se Lhe dirigem, ou que as circunstâncias da vida colocam diante d’Ele. Mostra-nos, assim, que não faz acepção de pessoas e que a Palavra de Deus é para todos. Manifesta para com todos o mesmo respeito e procede para com cada pessoa exactamente de acordo com aquilo de que tem necessidade. Jesus lança as suas raízes na experiência de vida de cada um e é essa mesma experiência que se torna lugar de Revelação.
Jesus apoia-se sempre nas experiências vitais daqueles a quem se dirige utilizando de modo particular o género literário das parábolas, cheias de colorido, de acção, de vida.
Jesus, “usa todos os recursos da comunicação interpessoal, como a palavra, o silêncio, a metáfora, a imagem, o exemplo e diferentes sinais, como faziam os profetas, convidando os seus discípulos a segui-Lo totalmente. Cristo entrega-lhes a sua Pedagogia da Fé como plena participação na Sua causa e no Seu destino” (DGC 140).
A pedagogia de Jesus “é uma pedagogia que se insere no “diálogo de salvação” entre Deus e a pessoa, sublinhando devidamente o destino universal dessa salvação; no que diz respeito a Deus, sublinha a iniciativa divina, a motivação amorosa, a gratuidade e o respeito pela liberdade; no que diz respeito à pessoa, evidencia a dignidade do dom recebido e a exigência de nele crescer continuamente” (cf. DGC 143).
4. Pedagogia divina continua na Igreja pela ação do Pneuma
Assim como entendeu São Irineu de Lyon a pedagogia divina se exerce também pela ação do Espírito Santo. O Logos divino, o Filho Jesus antes de retornar ao Pai, recorda que enviará o Espírito Santo para continuar sua obra de ensinar e não permitir esquecer o que ele falou (Jo 16, 12-15).
Isto é recordado pela Igreja apostólica e pós-apostólica, pois Jesus não está mais visível pelos olhos da carne, quem o mantém sempre presente é o Espírito Santo.
Sendo Jesus a revelação plena, o Espírito Santo não tem mais nada de novo a revelar, o que ele faz na Igreja é que ela compreenda melhor as palavras de Jesus e capte o que os olhos da razão humana ainda não perceberam sobre a revelação dada por Jesus.
66 "A Economia cristã, portanto, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo
94 explicitada por completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos . (cf. CIC n. 66)
A Igreja católica em sua caminhada de dois milênios, tem consciência deste papel exercido pelo Espírito Santo e sua importância como “alma da Igreja”, a tornando uma instituição santa. Por isso, rejeita todos que atacam sua doutrina elaborada a custa de muitos concílios, forjada na Tradição dos Apóstolos e na reta compreensão do livro da Palavra de Deus.
5. Pedagogia divina e catequese
A pedagogia catequética segue a pedagogia divina. Esta só está completa quando o discípulo atinge “o estado de homem perfeito, à medida da estatura e plenitude de Cristo” (Ef 4,13).
A Igreja sendo Mãe, é também educadora da nossa fé (CCE 169). Ela educa, à maneira de Cristo, através dos Catequistas e das testemunhas autênticas, até fazer com que cada discípulo cresça, como o seu Mestre, “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52), levando-o a conhecer sempre mais o mistério de salvação, ensinando-o a adorar a Deus Pai para que viva na verdade segundo a caridade e, assim, cresça em direção àquele que é a Cabeça, Cristo (Cf. Ef 4,15).
A pedagogia catequética inspira-se no diálogo que Deus, amorosamente, vai tecendo com cada pessoa, como o de um Pai para com um filho, levando-a cada a descobrir a vocação à qual o Senhor o chama e ela responde docilmente, tornando-se uma pessoa madura na sua fé, capaz de responder a Deus com o testemunho da sua vida e de “dar razões da sua esperança” (1Ped 3,15).
A catequese contribui para que o catequizando descubra a pedagogia divina em sua vida. Perceber a presença de Deus, com ele se comunicando. Este ato de percepção só é possível num coração que tem a visão da fé, dado pela Igreja, ou seja, pela participação comunitária. A catequese deve agregar o catequizando na participação comunitária
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