quarta-feira, 7 de março de 2012

Introdução- Catequese junto à pessoa com deficiência

07/03/2012 Caros irmãos, paz e bem! Segue o texto base que será utilizado nas primeiras aulas.

Att.
Michele


Introdução

Eles têm o direito de conhecer o “mistério da fé”. As dificuldades maiores que eles encontram tornam também mais meritórios os seus esforços e os dos seus educadores. ”

(Catechesi Tradendae,1971)

“É necessário levar em consideração as descobertas e avanços das ciências humanas e pedagógicas e assumir a pedagogia do próprio Cristo, que privilegiou os cegos, mudos, surdos, coxos, aleijados.”

“Toda pessoa tem necessidade, pois ninguém se basta a si mesmo. Mas, há algumas pessoas que têm necessidades específicas.”

(Diretório Nacional de Catequese.2005)

Neste contexto, o presente material tem como objetivo fornecer informações elementares para a inclusão na catequese de pessoas surdas.

Alguns pontos são comuns à inclusão e vale a pena começarmos por esta reflexão:

“É vã toda obra humana que não começa no céu” (Pietro Matastásio). Por isso, esteja em oração, para colher o chamado de Deus para este serviço. Sob a luz do Espírito Santo, prepare seus encontros catequéticos. Não há técnica, conhecimento e/ou material que substitua uma catequese ungida.

Estar em constante articulação com a família, escola e/ou profissionais que acompanhe o catequizando é de extrema importância. Desta forma você irá entender melhor seu catequizando, suas necessidades. Vai também obter informações e aprofundá-las.

A partir desta articulação poderá ser definido juntamente com o pároco se esta criança estará incluída todos os momentos em uma turma ou necessitará de trabalhos individuais. Se decidir-se pela primeira opção, o ideal é que a turma seja de poucas crianças e quando necessário tenha-se a ajuda de outro catequista.

Também é importante, estando a criança incluída num grupo, que seja dado abertura, sem a presença do catequizando especial, para que os demais catequizandos tirem suas dúvidas sobre, aprendam informações importantes, especialmente referente à dimensão espiritual da inclusão.Vale a pena também uma reunião com as famílias e até com a comunidade para explicar o processo de inclusão que está sendo iniciado.

Os milagres de Jesus

Evangelho de São Mateus:

Cura de uma pessoa com hanseníase: Mt 8,1-4

Cura de uma pessoa com paralisia: Mt 9,1-8

Cura de uma mulher com hemorragia: Mt 9,20-22

Cura de duas pessoas cegas: Mt 9,27-31

Cura de uma pessoa muda: Mt 9, 32-33

Evangelho de São Marcos:

Cura de uma pessoa com hanseníase: Mc 1,40-45

Cura de uma pessoa com paralisia: Mc 2,3-12

Cura de uma pessoa surda: Mc 7, 31-37

Cura de uma pessoa cega: Mc 8, 22-26

Evangelho de São Lucas:

Cura de uma pessoa com paralisia: Lc 5, 17-26

Evangelho de São João:

Cura de uma pessoa cega: Jo 9,1-41

SURDEZ

Terminologia

Historicamente a surdez era vista como uma patologia e mais recentemente, a partir de uma visão socioantropológica, ela é considerada uma condição singular marcada principalmente pela diferença lingüística – pessoas que fazem uso de uma língua de sinais.

De acordo com Gesser (2009) os termos deficiência auditiva e surdez não são determinados pelo grau de audição do sujeito, mas marcados por uma diversidade cultural.

Neste trabalho vamos utilizar a terminologia pessoa com surdez, entendo a pessoa não como deficiente, mas diferente. A diferença entre ouvintes e surdos é a forma de comunicação, isto é, a sua língua.

Não se utiliza mais a expressão surdo-mudo, visto que toda pessoa com surdez,desde que bem estimulada pode desenvolver a fala.

Surdos

Deficientes auditivos

São usuários de LIBRAS


Mobilização na defesa da LIBRAS, da cultura e da comunidade surda

Legenda na tv

Telefone para surdos

Conforto lingüístico visual

Participam de associações de surdos

Não aceitam ser chamados de deficientes auditivos

Presença de Intérprete de LIBRAS

Não são usuários de LIBRAS

Mobilização em busca de aparelhos auditivos

Televisão com fone sem fio ou legenda

São mais próximos dos ouvintes

Conforto lingüístico oral-auditivo

Não participam de associações de surdos

Não aceitam ser chamados de surdos


Presença de Intérprete Oro-Facial

Como funciona a orelha humana?

A orelha é dividida em três partes:

Orelha externa: pavilhão auricular e conduto auditivo externo;

Orelha média: tímpano e cadeia ossicular;

Orelha interna: canais semicirculares e cóclea;

FIGURA 1










Tipos e graus da perda auditiva (PA)

PA Condutiva

Ocorre na orelha externa e/ou média;

Caráter provisório, sendo possível curar-se a partir de tratamentos medicamentoso e/ ou cirúrgico.

PA Neurossensorial

Ocorre na orelha interna; envolvendo a cóclea e/ou nervo auditivo;

Normalmente não há cura, apenas acompanhamento clinico e/ou terapêutico.

PA Mista

Envolve ambos componentes, tanto de condução como neurossensorial.

A identificação da perda auditiva é feita por meio de exame audiológico, realizado pelo fonoaudiólogo, que diagnostica os graus de perda auditiva do indivíduo em graus, os quais acarretam respectivos prejuízos no desenvolvimento da fala/oralidade:

Normal

0 a 25 dB NA

Desenvolvimento normal de fala e linguagem

Leve

25 a 40 dB N.A

Linguagem e fala levemente prejudicadas

Moderada

41 a 70 dB N.A

Fala e linguagem atrasadas; omissão de consoantes

Severa

71 a 90 dB N.A

Raramente há desenvolvimento de fala (só com treino); linguagem severamente prejudicada

Profunda

acima de 90 dBN.A

Fala tende a ser pobre (mesmo com treino) e linguagem severamente prejudicada

A deficiência auditiva pode ser classificada quanto ao período em que ocorreu:

Pré-linguística

Pós-linguística

Pode ser congênita ou adquirida nos primeiros anos de vida antes do desenvolvimento da linguagem

É adquiria após o desenvolvimento da linguagem ou em idade mais avançada

Dificuldade de estruturação da linguagem

Facilidade na comunicação oral, pois há desenvolveu oralidade

Além do exame audiológico, faz-se necessário para o diagnóstico da perda auditiva, o exame otorrinolaringológico. Além disso, a detecção da perda auditiva é possível já em neonatos pelo Teste da Orelhinha, que tornou-se obrigatório pela Lei no 12.303 de 2 de agosto de 2010.

O diagnóstico precoce da perda auditiva em neonatos constitui-se em estratégia fundamental para prevenção, bem como permite uma intervenção/introdução de medidas terapêuticas, a fim de promover melhoria da qualidade de vida.

Causas da surdez:

As causas da surdez podem ser classificadas em dois tipos: a congênita e a adquirida.

Surdez Congênita

Surdez Adquirida

Hereditariedade

Predisposição genética como otosclerose

Viroses maternas como rubéola e sarampo

Meningite

Doenças da gestante como: sífilis, citomegalovírus, toxoplasmos

Exposição a sons impactantes como a explosão

Ingestão de remédios ototóxicos que lesam o nervo auditivo durante a gravidez

Sintomas da Surdez

Pede-se para repetir várias vezes ou isola-se socialmente;

2 - Dificuldade para ouvir em ambientes barulhentos;

3 - Zumbidos, chiados ou apitos no ouvido;

4 - Aumenta o volume da TV e rádio;

5 - Sensação de ouvido tampado, pressão e estalos no ouvido;

6 - Irritabilidade;

7 - Finge que entendeu o que foi conversado, tendo dificuldade em admitir a perda auditiva e procura ajuda;

8 - Evita situações comunicativas;

9 - Dificuldade de ouvir ao telefone.

Sintomas comuns apresentados por crianças com perda de audição:

1 - Não reagir a sons de forte intensidade como: batidas de portas, buzinas, etc.

2 - Não responder quando chamado;

5 - Criança que demora para falar (com um ano e seis meses a criança já fala algumas palavras isoladas).

O que fazer frente a algum destes sintomas?

1 - Consultar um médico otorrinolaringologista (especialista em ouvido, nariz e garganta);

2 - Consultar um fonoaudiólogo para realizar exames audiológicos e caso necessário realizar testes para adaptação aparelhos auditivos.

Tratamento

Para reduzir os prejuízos da deficiência auditiva é possível o uso de Próteses Auditivas associada à terapia fonoaudiológica. Um bom desempenho de fala depende do tipo, período e grau da perda; o estímulo recebido; os dispositivos eletrônicos utilizados e ainda de aspectos cognitivos, emocionais e socioculturais do indivíduo.

Além do fonoaudiólogo, outros profissionais podem atuar com pessoa com surdez: pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros, especialmente na questão escolar, a qual trata-se de um processo diferenciado para as pessoas com surdez.

Como prevenir a surdez?

  • Mulheres: vacinação em dia antes de planejar a gravidez!
  • Durante a gravidez não ingerir nenhum medicamento por conta própria;
  • Evitar exposição a raio X;
  • Evitar exposição à ruídos nas primeiras semanas de vida criança;
  • Estar com a carteira de vacinação das crianças atualizadas;
  • Cuidado com o volume alto nos fones de ouvido (MP3, por exemplo);
  • Pessoas que trabalham em ambientes ruidosos necessitam de proteção adequada (fones de ouvido). Cada local de trabalho tem um ruído próprio e o médico do trabalho deve avaliar qual tipo de fone que é necessário;

Próteses auditivas

Existe uma variedade de tipos e marcas de próteses auditivas. Além dos aparelhos auditivos convencionais existe hoje o Implante Coclear (IC) e o sistema FM. O IC é um aparelho indicado para pessoas com surdez profunda bilateral e tem um componente externo e um interno. Este último é colocado por meio de uma cirurgia.

O sistema FM tem sido muito utilizado na escola, pois a voz do professor pode chegar diretamente no ouvido do aluno com surdez.

FIGURA 2

Cuidados

Durante os encontros de catequese são importantes alguns cuidados com as próteses auditivas:

¢ Retirar o aparelho em atividades que produzam suor;

¢ Evitar atividades que envolvam risco de atrito físico ou queda;

¢ Não permitir contato com água (brincadeiras ou chuva);

¢ Observar o término da bateria:

- o aparelho pode emitir algum sinal sonoro ou visual indicando que a bateria acabou e nem sempre a pessoa com surdez consegue identificar;

- a criança parece que está ouvindo menos;

¢ Microfonia: é um apito fino e constante que pode ser causado por:

  • Molde mal ajustado e já pequeno;
  • Posição da cabeça;
  • Problema interno do aparelho;

Língua de sinais

É a língua utilizada pelas comunidades surdas;

É uma língua visuo-gestual-espacial, pois falamos com as nossas mãos e a compreendemos pela nossa visão. Diferente da nossa língua portuguesa que é oral-auditiva.

Cada país tem sua língua de sinais. Aqui no Brasil temos a Língua Brasileira de sinais que é a 2ª língua oficial do nossos país. Ainda dentro de cada país podemos encontrar variações de acordo com as regiões: um sinal aqui no estado de São Paulo pode ser diferente no estado do Paraná, por exemplo.

É uma língua que não é baseada no português, pois tem estrutura gramatical própria. Cada sinal tem um significado, como uma palavra, que combinados podemos formar frases, conversar e expressar todo e qualquer tipo de informação, seja ela concreta ou abstrata.

Não é uma língua ágrafa, isto é, a língua de sinais tem sua versão escrita, apesar de ainda estar numa fase experimental:

FIGURA 3

Vamos aprender a falar o nosso nome em LIBRAS?

FIGURA 4

ESTRATÉGIAS PARA O CATEQUISTA

¢ Estar sempre em contato com a família, escola e profissionais que atendem o catequizando;

¢ Procurar conhecer mais sobre a surdez;

¢ Saber o tipo e o grau da perda auditiva do catequizando;

¢ Saber se ele escuta e o quanto escuta;

¢ Saber se o catequizando utiliza ou não alguma prótese auditiva e quais são os cuidados necessários;

¢ Qual é forma de comunicação que o catequizando utiliza: LIBRAS, leitura orofacial, fala ou uma combinação de formas;

¢ Procurar, se for o caso, aprender LIBRAS;

¢ Saber se ele tem domínio da língua escrita portuguesa;

¢ Saber se além da surdez o catequizando apresenta alguma outra necessidade especial;

¢ Utilizar em todos os encontros de recursos imagéticos, isto é:

  • Gravuras, desenhos, fotografias;
  • Esquemas;
  • Mapas conceituais;
  • Objetos concretos;
  • Encenação/teatro;
  • Filmes;

¢ Dispor as cadeiras em roda;

¢ Utilizar associação escrita-figura ou sinal;

¢ Na bíblia assinalar as palavras-chave;

Com os catequizados mais oralizados podemos contar com outras estratégias;

¢ Falar de frente, devagar e sem gritar;

¢ Garantir que seu rosto esteja sempre iluminado e no mesmo nível visual do catequizando;

¢ Usar frases pequenas e simples; palavras-chave;

¢ Usar repetições;

¢ Dizer o mesmo conteúdo de formas diferentes;

¢ Evitar que o catequizando sente perto de parede, porta e/ou janela;

¢ Usar expressões faciais;

¢ Se dirigir ao acompanhante somente quando a pessoa surda solicitar;

Referências Bibliográficas

www.surdo.org.br/Apostila.pdf

www.libras.ufsc.br

www.editora-arara-azul.com.br

www.sj.cefetsc.edu.br

www.ines.gov.br

www.acessobrasil.org.br

libraseducandosurdos.blospot.com

Google:

“Comunicando com as mãos- apostila de Judy Esminger”

“Apostila LIBRAS –NEPES”

aprendolibras.blogspot.com

http://www.youtube.com/user/efetacampinas

GESSER, A. LIBRAS? que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de siansi e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009

BRAGA, S.R.S.Conhecimentos essenciais para atender bem o paciente com prótese auditiva. São José dos Campos: Pulso, 2003.

BEVILACQUA, M.A.; FORMIGONI, G.M.P. Audiologia Educacional:uma opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. 3ª edição. Carapicuiba: PróFono,200

SALES, A.M.; SANTOS, L.F; ALBRES, N.A.; JORDÃO, U.V. Construindo conhecimentos sobre surdez, Língua Brasileira de Sinais e Educação de Surdos. São Paulo: 2010. 42 p. (material didático).

Primeira Comunhão Eucarística – Catequese Especial para surdos. Livro do Catequista e catequizando. Editora Canção Nova – 2007


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