Att.
Michele
Introdução
“Eles têm o direito de conhecer o “mistério da fé”. As dificuldades maiores que eles encontram tornam também mais meritórios os seus esforços e os dos seus educadores. ”
(Catechesi Tradendae,1971)
“É necessário levar em consideração as descobertas e avanços das ciências humanas e pedagógicas e assumir a pedagogia do próprio Cristo, que privilegiou os cegos, mudos, surdos, coxos, aleijados.”
“Toda pessoa tem necessidade, pois ninguém se basta a si mesmo. Mas, há algumas pessoas que têm necessidades específicas.”
(Diretório Nacional de Catequese.2005)
Neste contexto, o presente material tem como objetivo fornecer informações elementares para a inclusão na catequese de pessoas surdas.
Alguns pontos são comuns à inclusão e vale a pena começarmos por esta reflexão:
“É vã toda obra humana que não começa no céu” (Pietro Matastásio). Por isso, esteja em oração, para colher o chamado de Deus para este serviço. Sob a luz do Espírito Santo, prepare seus encontros catequéticos. Não há técnica, conhecimento e/ou material que substitua uma catequese ungida.
Estar em constante articulação com a família, escola e/ou profissionais que acompanhe o catequizando é de extrema importância. Desta forma você irá entender melhor seu catequizando, suas necessidades. Vai também obter informações e aprofundá-las.
A partir desta articulação poderá ser definido juntamente com o pároco se esta criança estará incluída todos os momentos em uma turma ou necessitará de trabalhos individuais. Se decidir-se pela primeira opção, o ideal é que a turma seja de poucas crianças e quando necessário tenha-se a ajuda de outro catequista.
Também é importante, estando a criança incluída num grupo, que seja dado abertura, sem a presença do catequizando especial, para que os demais catequizandos tirem suas dúvidas sobre, aprendam informações importantes, especialmente referente à dimensão espiritual da inclusão.Vale a pena também uma reunião com as famílias e até com a comunidade para explicar o processo de inclusão que está sendo iniciado.
Os milagres de Jesus
Evangelho de São Mateus:
Cura de uma pessoa com hanseníase: Mt 8,1-4
Cura de uma pessoa com paralisia: Mt 9,1-8
Cura de uma mulher com hemorragia: Mt 9,20-22
Cura de duas pessoas cegas: Mt 9,27-31
Cura de uma pessoa muda: Mt 9, 32-33
Evangelho de São Marcos:
Cura de uma pessoa com hanseníase: Mc 1,40-45
Cura de uma pessoa com paralisia: Mc 2,3-12
Cura de uma pessoa surda: Mc 7, 31-37
Cura de uma pessoa cega: Mc 8, 22-26
Evangelho de São Lucas:
Cura de uma pessoa com paralisia: Lc 5, 17-26
Evangelho de São João:
Cura de uma pessoa cega: Jo 9,1-41
SURDEZ
Terminologia
Historicamente a surdez era vista como uma patologia e mais recentemente, a partir de uma visão socioantropológica, ela é considerada uma condição singular marcada principalmente pela diferença lingüística – pessoas que fazem uso de uma língua de sinais.
De acordo com Gesser (2009) os termos deficiência auditiva e surdez não são determinados pelo grau de audição do sujeito, mas marcados por uma diversidade cultural.
Neste trabalho vamos utilizar a terminologia pessoa com surdez, entendo a pessoa não como deficiente, mas diferente. A diferença entre ouvintes e surdos é a forma de comunicação, isto é, a sua língua.
Não se utiliza mais a expressão surdo-mudo, visto que toda pessoa com surdez,desde que bem estimulada pode desenvolver a fala.
Surdos | Deficientes auditivos |
São usuários de LIBRAS
| Não são usuários de LIBRAS
|
Como funciona a orelha humana? | |
A orelha é dividida em três partes: Orelha externa: pavilhão auricular e conduto auditivo externo; Orelha média: tímpano e cadeia ossicular; Orelha interna: canais semicirculares e cóclea;
| FIGURA 1 |
Tipos e graus da perda auditiva (PA)
PA Condutiva | Ocorre na orelha externa e/ou média; Caráter provisório, sendo possível curar-se a partir de tratamentos medicamentoso e/ ou cirúrgico. |
PA Neurossensorial | Ocorre na orelha interna; envolvendo a cóclea e/ou nervo auditivo; Normalmente não há cura, apenas acompanhamento clinico e/ou terapêutico. |
PA Mista | Envolve ambos componentes, tanto de condução como neurossensorial. |
A identificação da perda auditiva é feita por meio de exame audiológico, realizado pelo fonoaudiólogo, que diagnostica os graus de perda auditiva do indivíduo em graus, os quais acarretam respectivos prejuízos no desenvolvimento da fala/oralidade:
Normal | 0 a 25 dB NA | Desenvolvimento normal de fala e linguagem |
Leve | 25 a 40 dB N.A | Linguagem e fala levemente prejudicadas |
Moderada | 41 a 70 dB N.A | Fala e linguagem atrasadas; omissão de consoantes |
Severa | 71 a 90 dB N.A | Raramente há desenvolvimento de fala (só com treino); linguagem severamente prejudicada |
Profunda | acima de 90 dBN.A | Fala tende a ser pobre (mesmo com treino) e linguagem severamente prejudicada |
A deficiência auditiva pode ser classificada quanto ao período em que ocorreu:
Pré-linguística | Pós-linguística |
Pode ser congênita ou adquirida nos primeiros anos de vida antes do desenvolvimento da linguagem | É adquiria após o desenvolvimento da linguagem ou em idade mais avançada |
Dificuldade de estruturação da linguagem | Facilidade na comunicação oral, pois há desenvolveu oralidade |
Além do exame audiológico, faz-se necessário para o diagnóstico da perda auditiva, o exame otorrinolaringológico. Além disso, a detecção da perda auditiva é possível já em neonatos pelo Teste da Orelhinha, que tornou-se obrigatório pela Lei no 12.303 de 2 de agosto de 2010.
O diagnóstico precoce da perda auditiva em neonatos constitui-se em estratégia fundamental para prevenção, bem como permite uma intervenção/introdução de medidas terapêuticas, a fim de promover melhoria da qualidade de vida.
Causas da surdez:
As causas da surdez podem ser classificadas em dois tipos: a congênita e a adquirida.
Surdez Congênita | Surdez Adquirida |
Hereditariedade | Predisposição genética como otosclerose |
Viroses maternas como rubéola e sarampo | Meningite |
Doenças da gestante como: sífilis, citomegalovírus, toxoplasmos | Exposição a sons impactantes como a explosão |
Ingestão de remédios ototóxicos que lesam o nervo auditivo durante a gravidez |
|
Sintomas da Surdez
Pede-se para repetir várias vezes ou isola-se socialmente;
2 - Dificuldade para ouvir em ambientes barulhentos;
3 - Zumbidos, chiados ou apitos no ouvido;
4 - Aumenta o volume da TV e rádio;
5 - Sensação de ouvido tampado, pressão e estalos no ouvido;
6 - Irritabilidade;
7 - Finge que entendeu o que foi conversado, tendo dificuldade em admitir a perda auditiva e procura ajuda;
8 - Evita situações comunicativas;
9 - Dificuldade de ouvir ao telefone.
Sintomas comuns apresentados por crianças com perda de audição:
1 - Não reagir a sons de forte intensidade como: batidas de portas, buzinas, etc.
2 - Não responder quando chamado;
5 - Criança que demora para falar (com um ano e seis meses a criança já fala algumas palavras isoladas).
O que fazer frente a algum destes sintomas?
1 - Consultar um médico otorrinolaringologista (especialista em ouvido, nariz e garganta);
2 - Consultar um fonoaudiólogo para realizar exames audiológicos e caso necessário realizar testes para adaptação aparelhos auditivos.
Tratamento
Para reduzir os prejuízos da deficiência auditiva é possível o uso de Próteses Auditivas associada à terapia fonoaudiológica. Um bom desempenho de fala depende do tipo, período e grau da perda; o estímulo recebido; os dispositivos eletrônicos utilizados e ainda de aspectos cognitivos, emocionais e socioculturais do indivíduo.
Além do fonoaudiólogo, outros profissionais podem atuar com pessoa com surdez: pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros, especialmente na questão escolar, a qual trata-se de um processo diferenciado para as pessoas com surdez.
Como prevenir a surdez?
- Mulheres: vacinação em dia antes de planejar a gravidez!
- Durante a gravidez não ingerir nenhum medicamento por conta própria;
- Evitar exposição a raio X;
- Evitar exposição à ruídos nas primeiras semanas de vida criança;
- Estar com a carteira de vacinação das crianças atualizadas;
- Cuidado com o volume alto nos fones de ouvido (MP3, por exemplo);
- Pessoas que trabalham em ambientes ruidosos necessitam de proteção adequada (fones de ouvido). Cada local de trabalho tem um ruído próprio e o médico do trabalho deve avaliar qual tipo de fone que é necessário;
Próteses auditivas
Existe uma variedade de tipos e marcas de próteses auditivas. Além dos aparelhos auditivos convencionais existe hoje o Implante Coclear (IC) e o sistema FM. O IC é um aparelho indicado para pessoas com surdez profunda bilateral e tem um componente externo e um interno. Este último é colocado por meio de uma cirurgia.
O sistema FM tem sido muito utilizado na escola, pois a voz do professor pode chegar diretamente no ouvido do aluno com surdez.
FIGURA 2
Cuidados
Durante os encontros de catequese são importantes alguns cuidados com as próteses auditivas:
¢ Retirar o aparelho em atividades que produzam suor;
¢ Evitar atividades que envolvam risco de atrito físico ou queda;
¢ Não permitir contato com água (brincadeiras ou chuva);
¢ Observar o término da bateria:
- o aparelho pode emitir algum sinal sonoro ou visual indicando que a bateria acabou e nem sempre a pessoa com surdez consegue identificar;
- a criança parece que está ouvindo menos;
¢ Microfonia: é um apito fino e constante que pode ser causado por:
- Molde mal ajustado e já pequeno;
- Posição da cabeça;
- Problema interno do aparelho;
Língua de sinais
É a língua utilizada pelas comunidades surdas;
É uma língua visuo-gestual-espacial, pois falamos com as nossas mãos e a compreendemos pela nossa visão. Diferente da nossa língua portuguesa que é oral-auditiva.
Cada país tem sua língua de sinais. Aqui no Brasil temos a Língua Brasileira de sinais que é a 2ª língua oficial do nossos país. Ainda dentro de cada país podemos encontrar variações de acordo com as regiões: um sinal aqui no estado de São Paulo pode ser diferente no estado do Paraná, por exemplo.
É uma língua que não é baseada no português, pois tem estrutura gramatical própria. Cada sinal tem um significado, como uma palavra, que combinados podemos formar frases, conversar e expressar todo e qualquer tipo de informação, seja ela concreta ou abstrata.
Não é uma língua ágrafa, isto é, a língua de sinais tem sua versão escrita, apesar de ainda estar numa fase experimental:
FIGURA 3
Vamos aprender a falar o nosso nome em LIBRAS?
FIGURA 4
ESTRATÉGIAS PARA O CATEQUISTA
¢ Estar sempre em contato com a família, escola e profissionais que atendem o catequizando;
¢ Procurar conhecer mais sobre a surdez;
¢ Saber o tipo e o grau da perda auditiva do catequizando;
¢ Saber se ele escuta e o quanto escuta;
¢ Saber se o catequizando utiliza ou não alguma prótese auditiva e quais são os cuidados necessários;
¢ Qual é forma de comunicação que o catequizando utiliza: LIBRAS, leitura orofacial, fala ou uma combinação de formas;
¢ Procurar, se for o caso, aprender LIBRAS;
¢ Saber se ele tem domínio da língua escrita portuguesa;
¢ Saber se além da surdez o catequizando apresenta alguma outra necessidade especial;
¢ Utilizar em todos os encontros de recursos imagéticos, isto é:
- Gravuras, desenhos, fotografias;
- Esquemas;
- Mapas conceituais;
- Objetos concretos;
- Encenação/teatro;
- Filmes;
¢ Dispor as cadeiras em roda;
¢ Utilizar associação escrita-figura ou sinal;
¢ Na bíblia assinalar as palavras-chave;
Com os catequizados mais oralizados podemos contar com outras estratégias;
¢ Falar de frente, devagar e sem gritar;
¢ Garantir que seu rosto esteja sempre iluminado e no mesmo nível visual do catequizando;
¢ Usar frases pequenas e simples; palavras-chave;
¢ Usar repetições;
¢ Dizer o mesmo conteúdo de formas diferentes;
¢ Evitar que o catequizando sente perto de parede, porta e/ou janela;
¢ Usar expressões faciais;
¢ Se dirigir ao acompanhante somente quando a pessoa surda solicitar;
Referências Bibliográficas
libraseducandosurdos.blospot.com
Google:
“Comunicando com as mãos- apostila de Judy Esminger”
“Apostila LIBRAS –NEPES”
aprendolibras.blogspot.com
http://www.youtube.com/user/efetacampinas
GESSER, A. LIBRAS? que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de siansi e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009
BRAGA, S.R.S.Conhecimentos essenciais para atender bem o paciente com prótese auditiva. São José dos Campos: Pulso, 2003.
BEVILACQUA, M.A.; FORMIGONI, G.M.P. Audiologia Educacional:uma opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. 3ª edição. Carapicuiba: PróFono,200
SALES, A.M.; SANTOS, L.F; ALBRES, N.A.; JORDÃO, U.V. Construindo conhecimentos sobre surdez, Língua Brasileira de Sinais e Educação de Surdos. São Paulo: 2010. 42 p. (material didático).
Primeira Comunhão Eucarística – Catequese Especial para surdos. Livro do Catequista e catequizando. Editora Canção Nova – 2007
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